Varíola do macaco


25.07.22

O que sabemos e o que devemos fazer?

 

Um novo e incomum surto da varíola dos macacos (monkeypox) sacudiu o globo no meio da pandemia da doença do novocoronavírus (Covid-19). Entender o que se sabe sobre a doença e o que fazer nestes casos é fundamental não apenas para permitir intervenções médicas e de saúde públicas rápidas e adequadas, mas também para ajudar a entender a extensão e a disseminação deste surto.

 

O que a ciência sabe sobre o vírus da varíola do macaco?

A varíola do macaco é uma zoonose viral endêmica em certas partes da África, particularmente em áreas próximas às florestas tropicais. Foi descoberta pela primeira vez em macacos mantidos para pesquisa de laboratório em 1958, e desta maneira recebeu este nome. No entanto, são os roedores os principais portadores dessa doença na natureza.

O primeiro caso humano da varíola dos macacos foi detectado em 1970 na República Democrática do Congo. Alguns casos também chegaram a outros continentes no passado, trazidos por viajantes ou pela importação de animais exóticos que passaram o vírus para animais de estimação e depois para seus donos.

O vírus da varíola do macaco, do gênero Orthopoxvirus, faz parte da mesma família do vírus da varíola, mas normalmente é uma condição muito mais leve. Também, por serem vírus de DNA, são geralmente muito estáveis ??e evoluem de forma extremamente lenta em comparação ao vírus de RNA, como o coronavírus ou o Ebola. Ao contrário do SARS-CoV-2, um vírus capaz de rapidamente sofrer mutações e potencialmente escapar da imunidade adquirida pelas vacinas e infecção anterior, a varíola é causada por um vírus de DNA relativamente grande, os quais são melhores em detectar e reparar mutações.

O vírus é transmitido aos seres humanos através do contato próximo com uma pessoa ou animal infectado, ou ainda com material contaminado. A transmissão de humano para humano é possível através de gotículas respiratórias, relações sexuais, contato com fluidos corporais (incluindo saliva) e transferência transplacentária da mãe para o feto.

A síndrome clínica é caracterizada por febre, erupção cutânea e inchaço dos nódulos linfáticos. As complicações da varíola dos macacos podem incluir pneumonia, encefalite e infecções bacterianas secundárias.

 

Como é realizado o diagnóstico?

A reação em cadeia da polimerase (PCR) é o teste de laboratório preferido devido à sua precisão e sensibilidade. A confirmação da varíola dos macacos depende do tipo e qualidade da amostra e do teste laboratorial. Para isso, as amostras diagnósticas ideais são de lesões de pele, fluido das vesículas e pústulas e crostas secas.

Os exames de sangue de PCR geralmente são inconclusivos devido a curta duração da viremia em relação ao momento da coleta da amostra após o início dos sintomas e não devem ser coletadas rotineiramente dos pacientes.

Como os Orthopoxvirus são sorologicamente reativos, os métodos de detecção de antígenos e anticorpos não fornecem confirmação específica para varíola dos macacos. Portanto, os métodos de sorologia e detecção de antígenos não são recomendados para diagnóstico ou investigação destes casos.

Desta maneira, os testes na saliva, assim como no sangue não têm valores clínicos comprovados.

 

Como é feito o tratamento?

Atualmente, existem poucos estudos publicados ou análises observacionais sobre a terapêutica da varíola dos macacos em humanos.

Um estudo realizado recentemente no Reino Unido relatou o primeiro uso de agentes antivirais em pacientes com varíola do macaco, com três pacientes recebendo brincidofovir e um recebendo tecovirimat.

Os autores deste artigo analisaram a dinâmica viral e quaisquer eventos adversos relacionados as essas novas terapias antivirais. Foram extraídos dados clínicos, incluindo variáveis ??demográficas, sintomas e complicações da doença e tratamento antiviral recebido. Os resultados laboratoriais, incluindo testes bioquímicos de rotina e PCR do vírus da varíola dos macacos, também foram analisados.

O tratamento com o brincidofovir não conferiu qualquer benefício clínico convincente e foi associado a alterações nos testes de função hepática em todos os casos. Já, o paciente tratado com tecovirimat teve menor duração dos sintomas, e disseminação viral do trato respiratório superior do que os outros pacientes da série, sem eventos adversos identificados antes da alta hospitalar.

 

Existe vacina para a varíola do macaco?

A vacinação contra a varíola foi demonstrada através de vários estudos observacionais como sendo 85% eficaz na prevenção da varíola. Assim, a vacinação prévia contra a varíola pode resultar em doença mais leve.

As vacinas contra varíola e varíola do macaco são desenvolvidas em formulações baseadas no vírus vaccinia devido à proteção cruzada proporcionada pela resposta imune aos Ortopoxvírus.

Atualmente, as vacinas originais (de primeira geração) contra a varíola não estão mais disponíveis para o público. Uma vacina ainda mais recente baseada em um vírus (vaccinia) atenuado e modificado foi aprovada para a prevenção da varíola dos macacos em 2019. Esta é uma vacina de duas doses para a qual a disponibilidade permanece limitada.

 

Incertezas relacionadas ao surto atual

Exceto por um grande surto ligado a roedores importados nos EUA em 2003, a transmissão da varíola dos macacos sempre esteve confinada a locais remotos na África central e ocidental. No entanto, nos últimos 5 anos, ocorreram surtos em centros mais densamente povoados, aumentando a preocupação com a disseminação global.

Neste novo surto atual, em apenas uma semana no mês de maio de 2022, o número de casos detectados fora da África superou o número total detectado fora do continente desde 1970, quando se descobriu que o vírus causava doenças em humanos.

Essa rápida propagação multinacional e transmissão posterior entre humanos surgem como uma ameaça emergente para a saúde global, e coloca como prioridade, o aumento das investigações epidemiológicas sobre a origem dos surtos e os fatores de risco.

 

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Referência:

 

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Adler H, Gould S, Hine P, Snell LB, Wong W, Houlihan CF, Osborne JC, Rampling T, Beadsworth MB, Duncan CJ, Dunning J, Fletcher TE, Hunter ER, Jacobs M, Khoo SH, Newsholme W, Porter D, Porter RJ, Ratcliffe L, Schmid ML, Semple MG, Tunbridge AJ, Wingfield T, Price NM; NHS England High Consequence Infectious Diseases (Airborne) Network. Clinical features and management of human monkeypox: a retrospective observational study in the UK. Lancet Infect Dis. 2022 May 24:S1473-3099(22)00228-6. doi: 10.1016/S1473-3099(22)00228-6. Epub ahead of print. Erratum in: Lancet Infect Dis. 2022 Jul;22(7):e177. Erratum in: Lancet Infect Dis. 2022 Jul;22(7):e177. PMID: 35623380.

 

Simões P, Bhagani S. A viewpoint: The 2022 monkeypox outbreak. J Virus Erad. 2022 Jun 18;8(2):100078. doi: 10.1016/j.jve.2022.100078. PMID: 35784677; PMCID: PMC9241087.

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