Varíola dos Macacos – De onde veio e para onde irá?


21.10.22

O vírus da varíola dos macacos, também conhecido como Monkeypox (MKPX) foi isolado pela primeira vez em um laboratório em Copenhagen, em amostras de macacos que haviam sido importados de Cingapura. Apesar disso, é importante lembrar que, apesar do nome, não tem muita implicação com macacos. Os macacos são capazes de transmitir o vírus entre eles, mas não são a principal via que originou a transmissão para humanos. Durante muitos anos, havia o temor de doenças, principalmente virais, provenientes dos macacos, devido à semelhança genética; entretanto, hoje sabemos que os maiores riscos são provenientes dos roedores. As doenças transmitidas de animais para humanos são denominadas zoonoses. Quando ocorre a mudança de humanos para humanos, ocorre o salto entre espécies, como ocorreu na MKPX e provavelmente na covid-19 também.  

O primeiro caso de MKPX em humanos foi relatado em 1970, em uma criança de 9 meses internada em um hospital na República do Congo. Apesar de ter se curado espontaneamente da doença, acabou morrendo dias após por ter contraído sarampo. Apesar de ser uma região de floresta tropical povoada por macacos, não foi possível determinar a correlação. É provável que outros casos em humanos tenham ocorrido antes desse, não tendo sidos identificados devido à semelhança das lesões como as que ocorrem em outras doenças, como a catapora e a própria varíola. Apesar de vários casos e pequenos surtos terem sido descritos em países africanos, o primeiro relato de surto fora do continente africado é de 2003, nos EUA, quando 70 pessoas contraíram a doença. Na época foi aventada a possibilidade de a doença ter sido trazida por cães infectados, mas não houve nenhuma comprovação.

Desde maio deste ano, uma série de casos e surtos foram descritos, primeiramente na Europa, EUA e em outras localidades como América do Sul. No Brasil a quantidade de registros já é considerável e preocupante. A determinação da origem do atual surto é um trabalho de detetive médico, através de análises genéticas do vírus. Ao que tudo indica, o vírus causador do atual surto não está diretamente correlacionado aos vírus dos países da África Ocidental, o que induz à possiblidade de que o vírus possa já estar circulando há mais tempo, causando doenças leves ou até mesmo assintomáticas, em países fora da África. As análises genéticas sugerem que a partir de 2017 o vírus tenha acumulado uma grande quantidade de mutações que o tornaram capaz de ultrapassar as nossas barreiras imunológicas e possibilitar a transmissão entre humanos.

Ao contrário do vírus que causa o Covid-19, que se espalha principalmente por pequenas gotículas expelidas quando respiramos e é altamente infeccioso, a varíola dos macacos não é tão facilmente transmissível. Em vez disso, depende do contato físico próximo – geralmente prolongado – para passar de pessoa para pessoa ou animal para pessoa, daí a correlação com a transmissão entre pessoas que têm múltiplos parceiros sexuais. Vários estudos demonstram uma maior incidência entre homens que fazem sexo com homens (HSH), mas isso pode ser apenas a forma de entrada da doença, que tende a se espalhar entre outros grupos, com já vem sendo relatados casos em mulheres e crianças.

Ao que tudo indica, mesmo com o desenvolvimento de medicamentos mais eficazes contra a MKPX, a melhor forma de prevenção será a vacinação, que deve ser iniciada em grupos de maior risco, como profissionais de saúde, imunossuprimidos, idosos e populações de maior prevalência, como HSH. Nos países que disponibilizam a vacina - versão mais moderna da utilizada para a varíola - o benefício também é reconhecido em pacientes que contraem a doença, se aplicada na fase inicial. Além disso, o diagnóstico rápido e preciso é de fundamental importância, para que o paciente infectado não transmita para outras pessoas. Portanto, tanto a rede pública, como a privada, deve estar preparada para o fornecimento de resultados rápidos e precisos do teste PCR para MKPX, que é, atualmente, o mais preciso para o diagnóstico. Na ausência de medidas eficazes que possibilitem a prevenção, como a vacinação, de centros capacitados para diagnóstico e de ações de saúde pública fornecendo diretrizes e orientações à população, a doença tende a se tornar um problema muito mais extenso. As lições aprendidas com a COVID-19 têm de ser levadas em consideração.

Dr. Helio Magarinos
Diretor Médico
CRM 52.47173-0
Diretor do Richet Medicina & Diagnóstico, Especialista em Patologia Clínica e Medicina Laboratorial com MBA em Gestão de Negócios pelo IBMEC. Membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clinica (SBPC), da American Association for Clinical Chemistry (AACC), da American Society for Microbiology (ASM), da American Molecular Pathology (AMP) e da European Society for Microbiology and Infectious Diseases (ESCMID).
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