Monkeypox (Varíola dos Macados) – Atualizações em diagnóstico


18.08.22

Em 23 de julho de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a varíola dos macacos (Monkeypox) como uma emergência de saúde pública de interesse internacional, solicitando que as entidades internacionais de saúde pública focassem em ações para o combate da transmissão e retardamento da disseminação da doença. É a segunda vez em 2 anos que a OMS dá esse passo, enquadrando a doença entre as duas outras, COVID-19 e poliomielite, que atualmente se enquadram nessa classificação. Surtos anteriores de influenza A, Ebola, Zika, coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) e febre amarela fizeram historicamente parte da lista.

Após a declaração surgiram relatos de mais de 20.000 casos em 71 países onde a doença não é endêmica, sendo que cerca de 25% dos casos são provenientes dos EUA; o que fez com que as agências americanas de saúde pública acendessem o sinal de alerta, frente às recentes experiências com a pandemia de covid-19.  No Brasil, cerca de 3 mil casos estão confirmados ou em investigação e diversos alertas e orientações já foram emitidos pelo Ministério e Secretarias de Saúde dos estados e municípios.  

O que deve ser feito para conter os surtos de Monkeypox?

O início da pandemia de COVID-19 nos ensinou que o diagnóstico oportuno e preciso é de fundamental importância para o retardamento da transmissão do vírus. Ao contrário do SARS-CoV-2, que, no final de 2019 quando surgiu, era um vírus novo, o vírus da varíola dos macacos já existe há algum tempo. É um membro do gênero Orthopoxvirus e parente da varíola, erradicada mundialmente. O vírus foi descoberto pela primeira vez causando doença semelhante à varíola em macacos de laboratório em 1958, vindo daí o nome, e o primeiro caso de infecção humana foi relatado em 1970. Isso significa que estratégias de diagnóstico, tratamento e prevenção desenvolvidas anteriormente estão disponíveis e devem ser úteis nos esforços atuais para conter surtos.

Algumas diferenças importantes ??entre os surtos atuais e os que têm sido historicamente observado em países endêmicos, geraram questões importantes sobre a evolução do vírus, apresentação e disseminação da doença. As mensagens públicas sobre o que fazer se alguém entrar em contato com o vírus são, portanto, especialmente críticas durante esse período. Como a varíola é diagnosticada? Quando e onde se deve fazer o teste? As vacinas, quando disponíveis, podem ser administradas após a exposição?

Quem precisa e quando deve fazer o teste para Monkeypox?

Entre em contato com seu médico ou um serviço de saúde e busque informações para a realização do teste se você teve contato próximo com alguém com caso confirmado de monkeypox e/ou desenvolveu sintomas da doença.

Transmissão de Monkeypox

O vírus Monkeypox apresenta menor grau de transmissão do que o SARS-CoV-2, pois se espalha principalmente por contato direto de pessoa para pessoa, seja por gotículas respiratórias ou exposição às lesões infecciosas ou outros fluidos corporais. Não existem evidências de que o vírus possa permanecer no ar como acontece com o SARS-CoV-2. A transmissão também pode ocorrer no período perinatal, devendo haver um maior cuidado para as gestantes. O vírus pode permanecer viável em superfícies contaminadas, devendo haver maior cuidado de higienização das superfícies. Embora o DNA do vírus da varíola do macaco tenha sido detectado na saliva, urina, fezes e sêmen, não existe ainda uma conclusão sobre a transmissão através desses fluidos e, em particular, através do ato sexual, que se encontra em investigação.

Sintomas da Monkeypox

Os sintomas incluem febre, calafrios, dores de cabeça, dores musculares, fadiga, linfonodos inchados e uma erupção cutânea dolorosa que caracteristicamente aparece como inchaços na pele e tende a se distribuir no rosto, extremidades e genitais. À medida que a doença progride, esses inchaços se enchem de pus e fluido e ficam proeminentes, tornando-se úlceras e formando crostas até cair e desaparecer.

Como é feito o diagnóstico da Monkeypox

Como acontece com muitos vírus, a varíola dos macacos não pode ser diagnosticada de forma conclusiva apenas pelos sintomas. Isso ocorre porque muitos sintomas se assemelham aos de outras doenças e enfermidades que produzem erupções cutâneas, como varicela, sarampo, infecções bacterianas da pele e até urticária / reações alérgicas a medicamentos etc. O teste laboratorial confirmatório é, portanto, essencial para um diagnóstico preciso.

Que tipo de testes para Monkeypox estão disponíveis?

Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)

O teste de amplificação do ácido nucleico (DNA), também conhecido com Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) consiste na detecção de fragmentos de DNA do vírus Monkeypox em amostras clínicas dos pacientes. Através da utilização de sondas que são específicas e se ligam ao DNA do vírus, é possível fazer uma amplificação desse DNA, utilizando enzimas e componentes (nucleotídeos) que completam a cadeia de DNA do vírus e fazem uma amplificação de milhares de partículas do DNA viral, tornando a detecção viável. Devido à sensibilidade, especificidade e precisão desta técnica, o PCR é o teste laboratorial mais indicado para o diagnóstico da Monkeypox.

De acordo com a OMS e o Ministério da Saúde, amostras de fluido coletadas de pústulas ou crostas secas de lesões escamosas são consideradas a de maior sensibilidade para o diagnóstico. Biópsias de lesões também podem ser usadas. Amostras de sangue não são recomendadas, porque o vírus permanece no sangue apenas por um curto período durante o curso da infecção. Outros tipos de amostra como saliva, sêmen e urina ainda estão sendo investigadas como de utilidade no diagnóstico.

Antígeno Rápido e Sorologia?

É importante ressaltar que os métodos que dependem da detecção de anticorpos no sangue (por exemplo, sorologia) ou antígenos (por exemplo, fluxo lateral e/ou teste rápido de antígeno) são de valor limitado para o diagnóstico de Monkeypox porque o vírus demonstra reatividade cruzada significativa com outros orthopoxvírus (por exemplo, vírus Vaccinia, Camelpox, vírus Variola, vírus Ectromelia). Isso significa que os vírus do gênero Orthopoxvirus são antigenicamente semelhantes, o que os torna difíceis de diferenciar uns dos outros, e os anticorpos que se formam na defesa desses patógenos demonstram uma sobreposição semelhante. Isso é ainda mais complicado por respostas imunes que podem ser induzidas pela vacinação baseada em vaccinia, levando a falsos positivos em indivíduos que receberam recentemente ou anteriormente a vacina contra a varíola. Não surpreendentemente, essa reatividade sorológica cruzada continua sendo uma barreira significativa para o desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico.

Onde fazer o teste?

Atualmente existem vários laboratórios públicos e privados capacitados para a realização do teste, não sendo obrigatório, mas altamente recomendável, uma solicitação médica para a realização do teste, lembrando que só é possível a realização do teste se houver lesões ativas (vesículas, pústulas ou crostas). Recomendável a coleta da amostra em uma unidade de saúde ou de laboratório privado, sendo que alguns serviços privados também oferecem o serviço em domicílio.

O Richet realiza o RT-PCR para infecção por varíola do macaco através de amostras das lesões na pele e o resultado sai em 4 dias. Para realização do teste é necessário pedido médico.

Exposição Monkeypox e Próximos Passos

Monitore os sintomas e busque testes

Se você acredita que foi exposto a alguém infectado com o vírus da Monkeypox, é recomendado monitorar sua saúde por até 3 semanas, pois o período de incubação característico é de 1 a 2 semanas, podendo chegar a até 3 semanas até o que os sintomas apareçam. Não existe necessidade de isolamento se não houver sintomas durante este período. Se os sintomas se desenvolverem, isole-se imediatamente e entre em contato com seu médico ou um serviço de saúde para obter maiores orientações.

Vacina

Já foi anunciado a compra de vacinas específicas para Monkeypox pelo Ministério da Saúde, mas que, até o momento, não se encontram disponíveis no Brasil. A experiência de países, como os EUA, onde a vacina vem sendo aplicada em grupos específicos, indicam que quando administradas adequadamente antes ou diretamente após uma exposição recente, podem ser eficazes na prevenção da doença. O CDC recomenda a aplicação da vacina dentro de 4 dias após a exposição para maior chance de prevenir a doença. Quando recebidas até 14 dias após a exposição, as vacinas podem ser menos eficazes na prevenção, mas provavelmente continuarão a reduzir os sintomas. Após o início dos sintomas, não se espera que a vacinação seja particularmente benéfica para o curso atual da infecção. Grupos especiais, como profissionais de saúde e de maior risco, como imunossuprimidos, devem ser priorizados com a vacinação preventiva.

Importância da divulgação de informações corretas.

À medida que procuramos retardar a propagação da varíola dos macacos em todo o mundo, o aumento da capacidade de teste e vacinação será fundamental. O mesmo acontecerá com os esforços de comunicação para a comunidade científica, de atendimento à saúde e à população em geral. Surtos recentes demonstraram que homens que fazem sexo com homens (HSH) (ou seja, pessoas designadas do sexo masculino no nascimento) foram desproporcionalmente mais afetados por esta doença. É importante alertar, informar e apoiar essa comunidade em risco, ao mesmo tempo em que haja dissipação à estigmatização por meio de recursos educacionais e mensagens públicas. Monkeypox pode ser transmitido a qualquer pessoa e continua sendo uma ameaça à saúde pública para todas as pessoas. Os cientistas devem se comunicar de forma a educar e fornecer informações corretas aos indivíduos para que as decisões acertadas sejam tomadas para proteger a saúde de todos.

Seremos capazes de aplicar as lições aprendidas com a pandemia de COVID-19 para diagnosticar com eficiência e, posteriormente, fornecer opções oportunas e direcionadas de tratamento e prevenção para indivíduos infectados? O tempo vai dizer.

 

Fonte: Ashley Hagen, M. S. é o Editora Científica e Digital da Sociedade Americana de Microbiologia (ASM) e apresentador do Microbial Minutes da ASM.

 

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