Vacinação contra o HPV e sua adesão entre os adolescentes: o que precisamos saber?


08.12.22

O câncer do colo do útero é o quarto câncer feminino mais prevalente em todo o mundo e é a terceira causa mundial de mortalidade por câncer em mulheres [1].

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças afirmam que quase 99% dos casos de câncer do colo do útero e mais de 20% dos cânceres de mama, pescoço e anogenital são causados ​​pela infecção pelo Papilomavírus humano (HPV) [2].

No Brasil, a prevalência geral estimada de HPV é de 54,6%, e para os vírus de alto risco para o desenvolvimento de câncer é de 38,4% [3].

O câncer do colo do útero pode ser assintomático por mais de 20 anos após a infecção, e desta forma, a prevenção primária, com a vacina contra o HPV, é a melhor forma de proteger as mulheres deste tipo de câncer.

Vacinação contra o HPV em adolescentes

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o uso da vacina contra o HPV, prioritariamente para a população de meninas de nove a 14 anos, antes de se tornarem sexualmente ativas.

Em outubro de 2011, o Comitê Consultivo de Serviços de Imunização estabeleceu as diretrizes para vacinar todas as crianças, meninos e meninas, para impedir a incidência crescente da infecção por HPV [4]. A vacina foi implantada em 120 países, onde a estratégia de vacinação adotada foi adaptada às realidades locais.

Diante deste cenário, a cobertura global da vacina contra o HPV foi de 39,7%,  sendo de 68% em países de alta renda, 28% em países de renda média, e apenas 2,7% nos países de renda média baixa [5].

No Brasil, a vacina foi implantada em 2014, e está disponível para meninas e meninos de 9 a 14 anos. E, infelizmente, o cenário brasileiro também apresenta registro de baixa cobertura vacinal.

As vacinas oferecem imunogenicidade e eficácia para prevenção do câncer cervical

Atualmente, as vacinas quadrivalentes disponíveis contra o HPV no Programa Nacional de Imunização e em clínicas privadas protegem contra os tipos de HPV de alto risco (tipos 16 e 18), responsáveis por aproximadamente 70% dos cânceres cervicais e vaginais, orais e anais [6], além de dois tipos de vírus de baixo risco, responsáveis por 90% das verrugas genitais (HPV tipos 6 e 11) [7].

 

Conhecimento e aceitabilidade da vacina para o HPV entre adolescentes, pais e profissionais de saúde

Numa revisão publicada na revista Texto Contexto Enferm., os autores identificaram os fatores associados à adesão de adolescentes à vacina contra o HPV [8].

 Esta revisão integrativa avaliou 31 artigos originais, e identificou como preditores de adesão à vacina: o conhecimento quanto ao risco de infecção pelo vírus  e da vacina e seus benefícios; a prevenção do câncer de colo de útero e de verrugas genitais; atividade sexual; idade acima de 14 anos; intenção das mães em aderir à vacinação; a comunicação entre mãe e filho sobre infecção sexualmente transmissível, contracepção e preservativo; oferta da vacina na escola; recomendação por professores e profissionais da saúde; segurança e eficácia da vacina [8].

 

Fatores associados à adesão à vacina contra HPV na dimensão individual

A adesão à vacina foi associada ao conhecimento dos pais e adolescentes sobre o HPV e vacina. Dentre as informações que contribuíram para isto, destaca-se a relação da infecção por HPV e o câncer de colo de útero, e a prevenção de verrugas genitais entre adolescentes do sexo masculino.

No Brasil, a vacina, geralmente, está associada à disposição dos pais em permiti-la, e a recusa pela não adesão à vacina contra HPV estava associada ao medo de eventos adversos [8].

Estudos recentes relacionados à vacinação contra o HPV já concluíram que a vacina é bem tolerada, sem efeitos colaterais graves. Neste sentido, por estar entre as preocupações dos pais, no momento de consentir ou não a vacinação, mais esforços devem ser feitos para ajudá-los a compreender os riscos, e esclarecer a baixa probabilidade de complicações e reações mais graves.

Em relação aos adolescentes, observou-se que aqueles que mais se envolveram na decisão de tomar a vacina a partir dos 14 anos, foram aqueles adolescentes que estão em um relacionamento e já iniciaram sua vida sexual [8].

Entre os grupos onde a percepção de risco para o HPV era diminuída, e que adiaram o momento da vacinação, estavam aqueles sendo tabagistas; com vida sexual com o uso de preservativo; e os que não iniciaram a vida sexual [8].

 

Fatores associados à adesão à vacina contra HPV na dimensão programática

Os fatores de adesão foram, entre outros, as recomendações de profissionais da saúde, e garantia médica sobre a segurança e eficácia da vacina [8].

Recomenda-se a inclusão da vacina contra o HPV no calendário de vacinação do adolescente, pois favorece o entendimento dos pais de que é uma vacina como as outras disponíveis, capaz de prevenir doenças.

A vacina também deve ser administrada no mesmo ambiente das demais, pois os pais que acreditam que a vacina protege a saúde das crianças são mais propensos a aceitar a vacina contra o HPV.

 

Fatores associados à adesão à vacina contra HPV na dimensão social

Na dimensão social, a adesão foi relacionada à percepção da família e apoio dos amigos, e o acesso à informação sobre a vacina com pessoas da sua rede de convívio social [8].

Entre os fatores de adesão, as redes sociais dos pais foi uma importante fonte de informação sobre a vacina, e estas redes são vistas com mais credibilidade do que as informações veiculadas nos meios de comunicação [8].

A não adesão à vacinação foi relacionada à etnia, à religião, à fé, crenças e valores quanto ao comportamento sexual, temor de que a vacina não seja aceita por outros membros da família ou desnecessária devido ao baixo risco de HPV, e à escolaridade [8].

Entre os adolescentes, que tiveram um maior número de não adesão à vacinação, estão aqueles pertencentes a grupos residindo em ambiente social desfavorável, de raça negra, sem plano de saúde ou sem acesso a serviço de saúde pública [8].

Para essa população, as intervenções educacionais necessitam ser reformuladas e que considerem a cultura local, pois essa interfere nas percepções das pessoas sobre o risco de contrair a doença. Essas intervenções educacionais deverão influenciar a mudança de comportamento e adesão à vacina contra o HPV.

Desta maneira, a atividade de educação em saúde é uma ferramenta que deve ser incentivada e desenvolvida pelos profissionais de saúde, pois possibilita aos adolescentes e seus familiares assumirem papéis ativos no processo de aprendizagem e com visão crítica-reflexiva da realidade na qual estão inseridos.

 Nessa proposta de educação em saúde, é importante a construção de parcerias interinstitucionais, como entre saúde e educação, com vistas a apoiar comportamentos saudáveis.

Em suma, o envolvimento dos pais na decisão de tomar a vacina contra o HPV para seus filhos é muito importante para a aceitabilidade e utilização da vacina. No entanto, diferentes fatores como idade do participante, escolaridade, ocupação, histórico familiar de doenças sexualmente transmissíveis e medo de infecção pelo HPV foram significativamente associados ao conhecimento e à vontade de usar a vacina contra o HPV.

Assim, para apoiar os pais e adolescentes na decisão em aceitar a vacina contra o HPV, as informações sobre o vírus, a vacina e seus benefícios, devem ser repassadas de forma contextualizada e com respeito à cultura local.

Nós, do RICHET Medicina e Diagnóstico, assumimos o compromisso de trazer informações relevantes e atuais para você.

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Referências:

[1] World Health Organization. International Agency for Research on Cancer. Global Cancer Observatory. 2022. (https://gco.iarc.fr/)  

[2] Control, C.f.D., and Prevention. Vaccines for Children program (VFC). Atlanta, 2012

[3] Ministério da Saúde (BR). Estudo POP-Brasil: resultados e ações para o enfrentamento da infecção pelo HPV. Dados preliminares do projeto POP-Brasil-Estudo Epidemiológico sobre a Prevalência Nacional de Infecção pelo HPV [Internet]. Porto Alegre (BR): MS; 2017.

[4] Elbasha E, Dasbach E. An integrated economic evaluation and HPV disease transmission models-technical report accompanying the manuscript impact of vaccinating boys and men against HPV in the United States. Vaccine. 2010;28(42):6858–6867. doi: 10.1016/j.vaccine.2010.08.030.

[5] Bruni L, et al. Global estimates of human papillomavirus vaccination coverage by region and income level: a pooled analysis. Lancet Glob Health. 2016;4(7):e453–e463. doi: 10.1016/S2214-109X(16)30099-7.

[6] Dawar M, Harris MT, McNeil S. Update on Human Papillomavirus (HPV) Vaccines: an Advisory Committee Statement (ACS) National Advisory Committee on Immunization (NACI) Can Commun Dis Rep. 2012;38(1):1.

[7] Shearer B. HPV vaccination: understanding the impact of HPV disease. Purple Paper Natl Collab Centre Infect Dis. 2011;34:1–18.

[8] Carvalho AMC, Andrade EMLR, Nogueira LT, Araújo TME. Adesão à vacina HPV entre os adolescentes: revisão integrativa. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2019 [acesso MÊS ANO DIA]; 28:e20180257. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2018-0257