Segundo as estimativas da Organização Mundial de Saúde, um terço da população mundial encontra-se atualmente infectada por microrganismos do complexo Mycobacterium tuberculosis, enquanto a maioria das infecções se mantem latente no sistema imune de seus hospedeiros, podendo vir a progredir para a forma ativa e contagiosa da doença. A identificação dos indivíduos portadores de tuberculose latente tem fundamental importância nas estratégias de eliminação da tuberculose, uma vez que a prevenção ao desenvolvimento da doença pode ser feita impedindo a sua transmissão.
Além disso, o uso de inibidores de TNFα no tratamento de doenças inflamatórias crônicas como artrite reumatóide, espondilite anquilosante ou doença de Chron tem aumentado nas últimas décadas. Pacientes em uso de anticorpos anti TNFα apresentam risco aumentado de desenvolverem infecções, em particular a disseminação de tuberculose extrapulmonar causada pela reativação de infecção latente por Mycobacterium tuberculosis. Por este motivo, o rastreamento da tuberculose latente previamente ao início do uso de inibidor de TNFα torna-se essencial, embora conhecidamente problemático, especialmente na presença de terapia imunossupressora, uma vez que nem as técnicas de imagem e nem os teste tuberculínicos cutâneos demonstram suficiente acurácia.
O diagnóstico convencional da tuberculose latente era tradicionalmente feito pelo teste tuberculínico cutâneo – também conhecido como “PPD” ou “Mantoux”. O teste de PPD é baseado na resposta imune intradérmica celular aos antígenos celulares das micobactérias, tornando-o inespecífico para microrganismos patogênicos do complexo M. tuberculosis e levando a resultados falso positivos para casos de exposição a micobactérias ambientais e à vacinação pelo Bacilo Calmette-Guérin (BCG).
O teste intradérmico é um dos métodos diagnósticos mais antigos em uso até nossos dias, tendo sido introduzido como rotina desde 1910. Embora tenha sido utilizado rotineiramente por mais de um século, há algumas limitações importantes associadas a este método, tais como: a necessidade de pessoal treinado para administrá-lo, a subjetividade da interpretação e leitura dos resultados e o efeito booster, quando uma administração inicial do PPD pode promover reações subseqüentes do teste. Uma das maiores limitações do teste tuberculínico é a baixa especificidade, especialmente em indivíduos que foram vacinados pelo BCG, ou naqueles infectados por certas espécies de micobactérias não-tuberculosis. O teste pode demonstrar ainda baixa sensibilidade, especialmente em indivíduos imunocomprometidos. Outra limitação importante de ser citada é a necessidade do paciente retornar ao laboratório 48 a 72 horas após a aplicação para leitura dos resultados, o que nem sempre é atingido e aumenta o risco de pacientes com tuberculose latente não serem identificados na população.
A descoberta das proteínas imunogênicas das micobactérias ESAT-6, CFP-10 e TB 7.7 – todas expressadas especificamente por cepas patogênicas do complexo M. tuberculosis, abriu caminho para o desenvolvimento de testes diagnósticos mais específicos para a tuberculose latente (TBL). Os testes IGRA (Interferon Gamma Release Assay) - ensaios de detecção de interferon gama em amostras de sangue - foram desenvolvidos e têm demonstrado ser excelentes ferramentas para o auxílio da tuberculose latente. O princípio do teste é a medida dos níveis in vitro do interferon gama produzido por células T que tenham sido estimuladas por antígenos de TB purificados ou sintetizados.
O Laboratório Richet oferece o teste IGRA em sua rotina laboratorial já há alguns anos, pela metodologia QuantiFERON® TB Gold. Há várias versões do teste que foram desenvolvidas desde o seu lançamento em 2001, mas a mais recente versão utiliza três antígenos específicos da TB: ESAT-6, CFP-10 e TB7.7.
Vantagens do Teste IGRA QuantiFERON® TB Gold frente ao teste tuberculínico:
Limitações do Teste IGRA QuantiFERON® TB Gold:
Aplicações do Teste:
Informações:
O exame é realizado pelo Laboratório Richet a partir da coleta de 1 ml de sangue total em 3 diferentes tubos de coleta (Tubo de Antígeno TB; Tubo de Controle Positivo; Tubo de Controle Negativo). Os tubos são incubados a 37°C por 16 a 24 horas em laboratório. A concentração de interferon gama no plasma será determinada usando um teste ELISA sensível.
Interpretação dos Resultados:
A interpretação do teste IGRA baseia-se na quantidade de interferon gama liberada ou no número de células que liberam interferon gama. A interpretação do teste é qualitativa (positiva, negativa ou indeterminada).
Assim como o teste cutâneo, o teste IGRA deve ser utilizado no auxílio do diagnóstico das infecções por M. tuberculosis. Um teste positivo sugere provável infecção por M. tuberculosis enquanto um teste negativo indica improbabilidade. Um resultado indeterminado indica que maiores investigações são necessárias, com repetição e outra ocasião.
O diagnóstico da tuberculose latente (TBL) requer a exclusão da doença pela tuberculose (TB), incluindo a verificação de sintomas clínicos, radiografia de tórax e, quando indicado, exame de escarro ou de outras amostras clínicas para exclusão da presença de M. tuberculosis. Dados epidemiológicos e o histórico do paciente também devem ser levados em consideração.