“Doutor, quanto tempo de jejum preciso fazer?”
Esta clássica pergunta muitas vezes vem logo após o médico fazer a solicitação de exames laboratoriais e entregar ao paciente.
Para saber mais sobre isso conversamos com o Dr. Helio Magarinos Torres Filho, Diretor Médico do Richet Medicina & Diagnóstico.
Tradicionalmente, através de décadas, o jejum foi recomendado para a realização de exames, em especial aqueles relacionados ao metabolismo de alimentos. O raciocínio que levava a essa recomendação era baseado no fato de que, se alguém se alimentasse antes do exame, poderia haver uma elevação momentânea nos níveis das gorduras no sangue, dificultando a comparação com outro resultado colhido em jejum.
Porém, isso não havia sido comprovado em estudos científicos. Após a realização de pesquisas, com metodologia científica adequada, ficou demonstrado que as variações causadas pela alimentação não eram relevantes para os resultados. A partir daí a recomendação geral passou a ser a abolição do jejum prévio para quase todos os exames.
Todos os pacientes que já sabemos ser portadores de alterações dos níveis de triglicerídeos no sangue, uma substância que está diretamente ligada ao consumo e metabolismo de açúcares e gorduras; esses devem respeitar o jejum.
Todos os pacientes que estão em acompanhamento de tratamento para o controle do colesterol, e que têm resultados anteriores colhidos em jejum, por uma questão de se manter os níveis de base, devem continuar colhendo os exames sem alimentação prévia.
A coleta de sangue sem o jejum traz vantagens para o paciente que não precisa ficar sem se alimentar antes do exame, ou adequar seu horário de coleta só para conseguir alcançar o número de horas em jejum previsto.
Outra vantagem de não se fazer o jejum prévio é trazer a coleta para uma situação mais próxima ao dia a dia do paciente, já que muitos, diante da perspectiva do exame, fazem uma dieta mais rígida, que não seguem habitualmente. Nesse caso, o exame não estaria retratando a realidade do metabolismo do paciente. Esse resultado pode até mesmo impedir que um diagnóstico importante seja feito. A melhor recomendação é que o paciente faça a coleta dentro de uma rotina mais próxima possível da sua vida cotidiana.
Outra pergunta importante que deve ser feita aos pacientes é se está sendo usado algum medicamento ou mesmo um suplemento, vitamina, ou produto natural, que muitas vezes nem é identificado pelo paciente como medicamento. Algumas dessas substâncias podem ter influência direta no resultado dos exames.
Um exemplo típico é a Biotina, que é uma vitamina usada com fins estéticos, que, quando ingerida em quantidades pequenas, não são capazes de alterar os resultados. Porém, hoje em dia, passou a ser utilizada em doses maiores, podendo interferir no processo de reações químicas dos testes, já que muitos utilizam uma enzima, chamada de Biotinidase, levando a possíveis elevações sem significado clínico.