A doença inflamatória intestinal (DII) é uma denominação ampla utilizada para descrever doenças que geram inflamação crônica do trato intestinal. Dentre estas, destaca-se a Colite Ulcerativa e a Doença de Crohn, doenças representativas que podem ocorrer já em adolescentes e que requerem tratamento abrangente.
O número de casos de DII tem aumentado progressivamente nos últimos anos. Por outro lado, a sua patogênese ainda é controversa e pode envolver um conjunto de fatores.
A principal estratégia terapêutica adotada em casos de DII busca a remissão da doença. Idealmente, o grande objetivo é a cicatrização da mucosa intestinal (caracterizada pela remissão histológica), o que melhora o prognóstico do paciente e diminui as chances de intervenção cirúrgica e outras complicações [1].
Neste conteúdo, apresentaremos os principais biomarcadores que podem ser utilizados na clínica para monitoramento da DII.
De fato, exames de endoscopia e colonoscopia são as únicas ferramentas capazes de verificar a cicatrização da mucosa intestinal. No entanto, é um exame que necessita de preparo prévio e sua realização rotineira pode não ser muito bem aceita pelo paciente.
Nesse sentido, cada vez mais cresce a utilização de biomarcadores que sejam eficazes em monitorar a saúde intestinal em pacientes diagnosticados com DII, principalmente a proteína C-reativa (PCR) e a calprotectina fecal (FCP).
A PCR é uma proteína produzida no fígado em resposta à atividade de interleucinas durante o processo inflamatório, como a IL-6 [2]. É um biomarcador muito utilizado na clínica em diversas doenças inflamatórias [1].
Na DII, a PCR pode ser útil para monitoramento de pacientes que se encontram em fase ativa da doença e também para avaliar a resposta ao tratamento. Por ser um simples exame de sangue, é possível realizar medições repetidas sem maiores transtornos ao paciente. No entanto, não devem ser utilizada para diagnóstico de cicatrização do epitélio intestinal, mesmo quando os resultados indicam níveis baixos de PCR [1].
A calprotectina é um complexo proteico ligador de cálcio e zinco expresso em abundância em granulócitos, sendo seus níveis proporcionais à migração de neutrófilos da parede intestinal inflamada para a mucosa [3]. A mensuração de FCP nas fezes é útil para avaliar os níveis de calprotectina derivada de células inflamatórias que se infiltram na mucosa intestinal e destroem células epiteliais durante o processo [4].
É um exame bastante específico para medir a inflamação intestinal, pois somente amostras fecais são utilizadas. Além disso, é bastante estável em temperatura ambiente, resistente à degradação por enzimas proteolíticas do trato gastrointestinal e não é afetado pelos métodos de coleta fecal. Estes atributos transformam o FCP em um excelente biomarcador para monitoramento da inflamação intestinal [4].
Além da PCR e FCP, outros biomarcadores podem ser utilizados como auxiliares para monitoramento, como a velocidade de hemossedimentação (VHS), um marcador clássico para avaliação de processos inflamatórios.
Altas concentrações de fibrinogênio e globulina aumentam a VHS, indicando possível inflamação crônica e subaguda. No entanto, não é um exame específico para inflamações no trato intestinal e outras condições clínicas podem alterar a VHS. É muito utilizado como exame auxiliar para dosagens de PCR [5].
A pesquisa de sangue oculto nas fezes (ou teste imunoquímico fecal) é realizada para identificar a presença de sangue contido nas fezes. O teste é feito por meio de anticorpos anti-hemoglobina humano e é muito utilizado como ferramenta de triagem para diversas doenças intestinais que geram processo inflamatório crônico no intestino, desencadeando lesões e sangramento do mesmo [1].
A detecção de anticorpos para a microbiota intestinal também pode ser útil como biomarcadores para DII. Estudos científicos sugerem que anticorpos citoplasmáticos anti-neutrófilos e anticorpos anti-Saccharomyces cerevisiae estejam relacionados à patogênese da DII [3, 4]. Dessa forma, a presença destes anticorpos pode ser utilizada na clínica com ferramenta auxiliar no diagnóstico.
A prostaglandina E2 é gerada na cascata do ácido araquidônico em resposta a inflamação tecidual. É considerado um importante mediador químico durante o processo inflamatório e, segundo evidências científicas, suas concentrações aumentam no plasma sanguíneo devido à inflamação profunda das mucosas, como em casos de DII [8].
A excreção de seus metabólitos é urinária (tetranor-PGEM) e apresenta alta estabilidade. No entanto, a utilização de anti-inflamatórios não esteróides orais pode interferir nos valores das dosagens [1].
Pesquisas sobre as prostaglandina E2 urinária revelaram esta como um excelente marcador inflamatório, apresentando níveis elevados em casos de colite ulcerativa [9]. Estudos avaliaram ainda sua eficiência em comparação com a dosagem de PCR, onde apresentou maior capacidade diagnóstica [9].
Sua utilidade abrange também o diagnóstico de cicatrização da mucosa em pacientes com colite ulcerativa em fase de remissão, sendo sua capacidade diagnóstica de remissão endoscópica equivalente a exames como o FCP [10]. Dessa forma, espera-se que cada vez mais a dosagem desta prostaglandina possa ser incorporada na prática clínica para monitoramento em casos de colite ulcerativa.
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Referências:
[1]Sakurai T, Saruta M. Positioning and Usefulness of Biomarkers in Inflammatory Bowel Disease. Digestion. 2023;104(1):30-41. doi: 10.1159/000527846
[2] Ballou SP, Kushner I. C-reactive protein and the acute phase response. Adv Intern Med. 1992;37:313–36.
[3] Nakashige TG, Zhang B, Krebs C, Nolan EM. Human calprotectin is an iron-sequestering host-defense protein. Nat Chem Biol. 2015 Oct;11(10):765-71. doi: 10.1038/nchembio.1891
[4] Røseth AG, Schmidt PN, Fagerhol MK. Correlation between faecal excretion of indium-111-labelled granulocytes and calprotectin, a granulocyte marker protein, in patients with inflammatory bowel disease. Scand J Gastroenterol. 1999 Jan;34(1):50-4. doi: 10.1080/00365529950172835.
[5] Sox HC Jr, Liang MH. The erythrocyte sedimentation rate. Guidelines for rational use. Ann Intern Med. 1986 Apr;104(4):515-23. doi: 10.7326/0003-4819-104-4-515.
[6] Mitsuyama K, Niwa M, Takedatsu H, Yamasaki H, Kuwaki K, Yoshioka S, Yamauchi R, Fukunaga S, Torimura T. Antibody markers in the diagnosis of inflammatory bowel disease. World J Gastroenterol. 2016 Jan 21;22(3):1304-10. doi: 10.3748/wjg.v22.i3.1304.
[7] Quinton JF, Sendid B, Reumaux D, Duthilleul P, Cortot A, Grandbastien B, Charrier G, Targan SR, Colombel JF, Poulain D. Anti-Saccharomyces cerevisiae mannan antibodies combined with antineutrophil cytoplasmic autoantibodies in inflammatory bowel disease: prevalence and diagnostic role. Gut. 1998 Jun;42(6):788-91. doi: 10.1136/gut.42.6.788.
[8] Chinen T, Komai K, Muto G, Morita R, Inoue N, Yoshida H, Sekiya T, Yoshida R, Nakamura K, Takayanagi R, Yoshimura A. Prostaglandin E2 and SOCS1 have a role in intestinal immune tolerance. Nat Commun. 2011 Feb 8;2:190. doi: 10.1038/ncomms1181.
[9] Arai Y, Arihiro S, Matsuura T, Kato T, Matsuoka M, Saruta M, Mitsunaga M, Matsuura M, Fujiwara M, Okayasu I, Ito S, Tajiri H. Prostaglandin E-major urinary metabolite as a reliable surrogate marker for mucosal inflammation in ulcerative colitis. Inflamm Bowel Dis. 2014 Jul;20(7):1208-16. doi: 10.1097/MIB.0000000000000062.
[10] Sakurai T, Akita Y, Miyashita H, Miyazaki R, Maruyama Y, Saito T, Shimada M, Yamasaki T, Arhihiro S, Kato T, Matsuura T, Ikegami M, Okayasu I, Saruta M. Prostaglandin E-major urinary metabolite diagnoses mucosal healing in patients with ulcerative colitis in remission phase. J Gastroenterol Hepatol. 2022 May;37(5):847-854. doi: 10.1111/jgh.15782.