A evolução tecnológica no diagnóstico laboratorial tem avançado consideravelmente permitindo a detecção direta de patógenos em amostras clínicas por técnicas moleculares. Isso diminui o tempo necessário para a identificação dos microrganismos e contribui para o rápido tratamento dos pacientes infectados, diminuindo a progressão da doença e interrompendo a transmissão das DSTs.
As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) têm grande impacto na saúde sexual e reprodutiva da população. Embora mais de 30 diferentes patógenos estejam associados às DSTs, apenas oito são claramente relacionados à prevalência da maior parte das doenças. Elas podem ocasionar sintomas genitais, afetando a qualidade de vida dos pacientes e gerando conseqüências psicossociais, aumento na morbidade e mortalidade, complicações durante a gravidez, câncer, infertilidade, além de aumentar o risco de transmissão do HIV.
Trichomonas vaginalis: A Tricomoníase vaginal está associada à ocorrência de nascimentos prematuros e à maior predisposição para a aquisição do HIV. No homem pode permanecer assintomática ou causar uretrite.
O diagnóstico laboratorial da tricomoníase, apesar de simples, nem sempre apresenta boa sensibilidade. O método mais utilizado para a pesquisa em mulheres é o exame direto do fluido vaginal, no qual os parasitas podem ser observados em movimento ao microscópio. A cultura é considerada o teste “padrão ouro”, entretanto, é um teste mais trabalhoso, mais demorado e nem sempre disponível nos laboratórios clínicos. Quando comparado à cultura, o exame direto apresenta grau de sensibilidade bastante variável (50% a 80%), principalmente por ser um teste de caráter subjetivo. Outra forma de pesquisar a tricomoníase vaginal é o exame de colpocitologia por coloração de Papanicolaou, que apesar de simples também é subjetivo. Já o diagnóstico em homens é mais complexo, pois depende do exame microscópico da urina à fresco, no qual os parasitas vivos podem ser visualizados. Este tipo de teste nem sempre é factível de ser realizado no laboratório, principalmente porque os parasitas permanecem viáveis na urina por curtos períodos.
A pesquisa do DNA de T. vaginalis por método P.C.R. se mostra mais sensível do que a cultura, tanto em amostras de fluido vaginal, como em urinas masculinas e atualmente é a melhor opção diagnóstica para a pesquisa do parasita. A prevalência de T.vaginalis varia entre 25% a 58% em mulheres e entre 2% a 25% em homens, dependendo da população estudada. Diversos estudos demonstram a superioridade do método P.C.R. em relação aos demais, incluindo a cultura. O teste pode ser aplicado em amostras coletadas em swabs de secreção vaginal feminina e secreção uretral masculina. Amostras de urina também apresentam boa aplicação, especialmente em homens.
Mycoplasma hominis, Mycoplasma genitalium, Ureaplasma urealyticum: Tanto o M.genitalium quanto o M.hominis e o U.urealyticum foram originalmente isolados em amostras uretrais masculinas, tendo sido correlacionados a uretrites não gonocócicas, com sintomas semelhantes aos causados pela Clamídia. No trato genital feminino, podem causar sintomas semelhantes aos provenientes de infecções por Clamídia e Gonorréia: cervicite, doença inflamatória pélvica e fator de infertilidade tubária.
Chlamydia trachomatis: A clamídia é uma bactéria intracelular bastante prevalente nas infecções bacterianas sexualmente transmitidas. Causa infecções geniturinárias tanto nos pacientes femininos quanto masculinos e pode estar associada à disúria e corrimento vaginal, uretral ou retal. Na mulher, as complicações incluem a doença inflamatória pélvica, a salpingite e a infertilidade. Aproximadamente de 25% a 30% das mulheres que desenvolvem salpingite aguda tornam-se inférteis. As complicações no homem são raras, mas incluem epididimite e esterilidade. Ainda que raramente, a infecção genital por clamídia pode levar à artrite associada às lesões de pele e à inflamação ocular (Síndrome de Reiter). A C. trachomatis pode ser transmitida pela mãe durante o parto e estar associada à conjuntivite e pneumonia do recém nascido. Este microrganismo pode ainda causar hepatite e faringite no adulto. A cultura era considerada o “teste padrão” para o diagnóstico de C. trachomatis, entretanto por serem microrganismos frágeis in vitro o método era altamente dependente da coleta, transporte e processamento das amostras, para que a garantia da viabilidade dos microrganismos pudesse ser mantida. Os testes moleculares, comparativamente, oferecem maior sensibilidade e especificidade e vêm sendo recomendado há algum tempo para o diagnóstico. A identificação precoce de infecção reduz o risco de transmissão da doença e o tratamento precoce diminui o risco de infertilidade feminina.
Neisseria gonorrhoeae: A maioria das infecções em mulheres é assintomática, o que deve fazer com que a prevalência de N. gonorrhoeae seja mais alta do que o que é reportado. Este microrganismo causa infecção geniturinária na mulher e no homem pode estar associada com disúria e corrimento uretral. Complicações incluem doença inflamatória pélvica na mulher, e epididimite e prostatite gonocócica no homem. Também pode ocorrer bacteremia por gonococos, faringite e artrite. A infecção no homem é tipicamente associada a sintomas de fácil avaliação clínica, porém, dado o risco de infecção assintomática em pacientes do sexo feminino, os testes de triagem são recomendados em mulheres com alto risco de infecção (ex: aquelas com infecção prévia por N. gonorrhoeae ou outras DSTs, não usuárias de preservativos, múltiplos parceiros). A cultura sempre foi considerada o “teste padrão” para o diagnóstico das infecções, mas por ser considerado um microrganismo fastidioso, as técnicas de coleta, acondicionamento e transporte da amostra clínica interferem diretamente no sucesso do método. Os métodos moleculares permitem a detecção direta do patógeno, agilizando o diagnóstico e tratamento.
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Referências: