O câncer de mama (CM) é o câncer mais comum em mulheres em todo o mundo, e é geralmente diagnosticado em estágios iniciais e potencialmente curáveis.
Um melhor conhecimento do CM está melhorando nossa capacidade de selecionar a terapia mais adequada para cada paciente, minimizando toxicidades desnecessárias e melhorando a eficácia a longo prazo.
A análise de biomarcadores no câncer fornece não apenas informações adicionais sobre fatores clínicos clássicos, mas permite que pacientes, com uma relação risco-benefício mais favorável, recebam tratamentos assertivos.
No câncer de mama, a análise de biomarcadores é prática rotineira. Por décadas, a superexpressão do receptor hormonal (HR) e/ou status de amplificação do receptor 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2), utilizados, respectivamente, para a orientação da terapia com tamoxifeno e tratamentos, direcionados contra o HER2, resprevolucionaram o campo dos biomarcadores.
Nos últimos anos, a prática clínica no mundo todo testemunhou a chegada de plataformas genéticas para determinar o prognóstico destes pacientes com tumores ER-positivos, HER2-negativos de prognóstico favorável, sem envolvimento de linfonodos.
Conforme as várias diretrizes clínicas europeias e americanas, e vários grupos de especialistas, é cada vez mais constante as recomendações para o uso de plataformas genéticas em diferentes contextos clínicos do câncer de mama hormônio-dependente, seja como ferramenta prognóstica ou para estabelecer o benefício da suplementação da terapia hormonal com quimioterapia.
Nesta direção, as análises de custo-efetividade das plataformas genéticas sugerem que o uso destas plataformas é custo-efetivo, visto que reduz o uso de quimioterapia e previne a ocorrência de eventos durante o curso clínico.
Numa publicação da revista Clinical Translational Oncology, os autores revisaram várias plataformas de prognóstico genéticas em pacientes com câncer de mama positivo para ER e negativo HER2, e concluíram que elas poderiam ser usadas para estabelecer uma categoria prognóstica, e para discutir com o paciente se o tratamento poderia ser limitado à terapia hormonal [1].
Num outro artigo, publicado na revista Breast Cancer Research and Treatment, os autores utilizaram a plataforma denominada Oncotype DX® Breast Recurrence Score™ (RS) para prever a recorrência do câncer de mama e o benefício da quimioterapia adjuvante em pacientes selecionados com linfonodo positivo (LN+), receptor hormonal positivo (HR+), HER2-negativo, e sobrevida livre da doença (SLD) em 5 anos [2].
Conforme o Recurrence Score®, que varia entre 0 e 100, um resultado mais baixo significa que é improvável que a quimioterapia reduza o risco da recidiva tumoral. Já, um resultado mais alto significa que há uma chance maior do paciente em beneficiar-se com a quimioterapia.
Os resultados demonstraram que no geral, a chance de sobrevida livre da doença de 5 anos é alta em pacientes com RS < 18, particularmente entre aqueles com micrometástases e menos linfonodos positivos. A SLD em cinco anos piorou tanto com o aumento do número de linfonodos envolvidos quanto com o aumento do resultado do RS. Nem todos os pacientes com doença LN+ apresentaram doença agressiva [2].
A SLD em cinco anos para aqueles com RS < 18 variaram de 98,9% para aqueles com micrometástases a 92,8% para aqueles com ≥4 linfonodos. Padrões semelhantes foram encontrados para pacientes com RS 18–30 e RS ≥ 31. O grupo RS foi fortemente preditivo de SLD em 5 anos entre pacientes com micrometástases ou até três linfonodos positivos [2].
Como conclusões, foi sugerido que uma taxa de sobrevida livre de doença de 5 anos é excelente para pacientes com RS < 18 e micrometástases, um ou dois linfonodos positivos e piora com o envolvimento de linfonodos adicionais [2].
Análises adicionais devem considerar as variáveis ??do tratamento, e atualizações longitudinais são necessárias para caracterizar melhor a utilização do teste Oncotype DX e os resultados de sobrevida a longo prazo.
Biópsias líquidas, definidas amplamente como células tumorais circulantes (CTCs) de origem epitelial, ácidos nucleicos tumorais (ctDNA, cfmiRNA) ou exossomos tumorais no sangue de pacientes com câncer, têm recebido cada vez mais atenção como uma nova ferramenta de diagnóstico [3].
A análise de cfDNA para detecção de mutações pode desempenhar um papel importante no tratamento personalizado do câncer devido a muitas vantagens, incluindo: (i) um método não invasivo para a detecção de mutações clinicamente úteis para orientar a seleção da terapia; (ii) detecção precoce de mutações relacionadas à resistência a um tratamento direcionado; (iii) um método sensível para rastrear a resposta do paciente à terapia; (iv) minimização das influências da heterogeneidade tumoral.
No câncer de mama, dados emergentes suportam um papel potencial do ctDNA. Em um estudo realizado em pacientes com câncer de mama inicial e tratados com quimioterapia neoadjuvante, a detecção de ctDNA no pós-operatório ou durante o seguimento foi altamente preditiva de recidiva, resistência à terapia e predição de resposta [4].
A terapia endócrina é o padrão de tratamento para o câncer de mama positivo para receptor de estrogênio e negativo para receptor epidérmico humano 2 (ER+/HER2-). O ER+ tem um bom prognóstico e menor risco de mortalidade do que a doença ER- e/ou receptor de progesterona negativo (PgR-).
Nesta direção, a terapia endócrina neoadjuvante pode ser uma opção segura e eficaz para o tratamento do câncer de mama precoce ER+/HER2-, principalmente para aqueles pacientes considerados muito frágeis para receber quimioterapia primária.
No contexto de múltiplas escolhas de estratégia e tratamento, o uso rotineiro de ferramentas genômicas (como Oncotype DX) em tecido ou com biópsia líquida pode ser crucial para selecionar pacientes propensos a responder à terapia endócrina combinada e alcançar um resultado favorável.
Em resumo, o uso de ferramentas genéticas com a biópsia líquida pode melhorar ainda mais nossa capacidade de prever recidiva, monitorar pacientes, prever atividade de drogas ou fornecer detecção precoce de resistência em pacientes com câncer. No caso do RS, o ensaio fornece informações adicionais para o processo de tomada de decisão de quimioterapia e demonstrou ter impacto nas recomendações de quimioterapia, reduzir o uso excessivo geral de quimioterapia e ser econômico.
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Referências: [1] Colomer R, Aranda-López I, Albanell J, García-Caballero T, Ciruelos E, López-García MÁ, Cortés J, Rojo F, Martín M, Palacios-Calvo J. Biomarkers in breast cancer: A consensus statement by the Spanish Society of Medical Oncology and the Spanish Society of Pathology. Clin Transl Oncol. 2018 Jul;20(7):815-826. doi: 10.1007/s12094-017-1800-5. Epub 2017 Dec 22. Erratum in: Clin Transl Oncol. 2018 Jun 18; PMID: 29273958; PMCID: PMC5996012. [2] Roberts MC, Miller DP, Shak S, Petkov VI. Breast cancer-specific survival in patients with lymph node-positive hormone receptor-positive invasive breast cancer and Oncotype DX Recurrence Score results in the SEER database. Breast Cancer Res Treat. 2017 Jun;163(2):303-310. doi: 10.1007/s10549-017-4162-3. Epub 2017 Feb 27. PMID: 28243896. [3] Freitas AJA, Causin RL, Varuzza MB, Calfa S, Hidalgo Filho CMT, Komoto TT, Souza CP, Marques MMC. Liquid Biopsy as a Tool for the Diagnosis, Treatment, and Monitoring of Breast Cancer. Int J Mol Sci. 2022 Sep 1;23(17):9952. doi: 10.3390/ijms23179952. PMID: 36077348; PMCID: PMC9456236. [4] Li S, Lai H, Liu J, Liu Y, Jin L, Li Y, Liu F, Gong Y, Guan Y, Yi X, Shi Q, Cai Z, Li Q, Li Y, Zhu M, Wang J, Yang Y, Wei W, Yin D, Song E, Liu Q. Circulating Tumor DNA Predicts the Response and Prognosis in Patients With Early Breast Cancer Receiving Neoadjuvant Chemotherapy. JCO Precis Oncol. 2020 Mar 27;4:PO.19.00292. doi: 10.1200/PO.19.00292. PMID: 32923909; PMCID: PMC7450928. Link: www.richet.com.br/exame/oncotype-dx-mama