George Papanicolaou, nascido como Georgios Nicholas Papanikolaou em 13 de Maio de 1883 na cidade portuária de Kimi, Grécia, queria ser músico, mas, influenciado pelo pai médico, acabou se formando em medicina na Universidade de Atenas. Quando em 1913, desembarcou com sua esposa, Andromache Mavroyene (Mary), em Nova Iorque com apenas 250 dólares no bolso, ambos não falavam inglês. Mary trabalhou como costureira e ele não durou mais de 1 dia como vendedor de tapetes, tendo se sustentado com o que gostava de fazer, tocando violino em restaurantes. Após 1 ano, conseguiu ser contratado para trabalhar no departamento de patologia do Hospital Central de Nova York e no departamento de anatomia da faculdade de medicina da Universidade Cornell, com o pesquisador Charles Stockard, onde sua esposa Mary também foi contratada como técnica. Lá, Papanicolaou desenvolveu estudos a respeito das células descamadas, coletadas na vagina, descrevendo as suas modificações durante o ciclo menstrual e alterações relacionadas à presença de câncer. Em parceria com o ginecologista Herbert Frederick Traut, publicou o lendário estudo Diagnosis of Uterine Cancer by the Vaginal Smears (Yale J Biol Med, 1943) com dados de 3014 mulheres, descrevendo diversos casos de detecção de câncer em mulheres assintomáticas; este estudo tornou o exame de colpocitologia amplamente conhecido, vindo a ser integrado à rotina diagnóstica como o primeiro teste capaz de detectar um tipo de câncer de forma precoce. Interessante notar que as ilustrações eram desenhadas à mão, observando as imagens de células ao microscópio. Os estudos de Papanicolaou foram fundamentais para prevenir e curar precocemente uma doença até então com poucas expectativas de cura, só diagnosticada em estágios avançados. Até hoje, o exame, também conhecido como Papanicolaou, Papanicolau ou Pap, é utilizado na prática clínica como uma importante ferramenta para o combate ao câncer do colo uterino. Mesmo tendo recebido vários prêmios e reconhecimento pela importância das suas pesquisas, que permitiram salvar milhões de vidas, Papanicoloau não recebeu o prêmio Nobel de Medicina, apesar de ter sido indicado em 1960, tendo morrido em 1963 aos 80 anos.
As verrugas genitais já haviam sido descritas na antiguidade pelo emérito médico romano Galeno (129-199 d.C.), mas foi somente na década de 1980 que o vírus HPV passou a ser associado à causa etiológica de verrugas e a alguns tipos de câncer, como o de útero, ânus, vagina, pênis e garganta, tornando-se uma das primeiras e mais bem documentadas associações de câncer à ação de um vírus e rendendo o prêmio Nobel de Medicina de 2008 ao cientista alemão Harald zur Hausen. Essa descoberta foi muito importante para o desenvolvimento tanto de métodos diagnósticos mais precisos, como a pesquisa e genotipagem do DNA viral do HPV por PCR – um exame que pode prever o risco para o desenvolvimento de câncer uterino antes do aparecimento de algum tipo de lesão ou alteração celular – como também possibilitou o desenvolvimento de vacinas contra o HPV, tornando-se um excelente e eficaz método de prevenção de câncer.
A vacina contra o HPV tem hoje papel fundamental não somente para a prevenção, como também para a diminuição da transmissão do vírus e, consequentemente, uma possível futura erradicação do câncer de útero.
Enquanto a vacina quadrivalente protege contra 4 tipos de HPV (6, 11, 16 e 18), a nonavalente incorporou mais cinco tipos (31, 33, 45, 52 e 58) todos associados ao alto risco. Aproximadamente 25% dos casos de câncer da vulva e 70% dos casos de câncer da vagina são causados pelo HPV. Os 9 tipos de HPV contidos na vacina causam 85-90% dos casos de câncer da vulva, 80-85% dos casos de câncer da vagina, 90-95% dos casos de pré-câncer da vulva avançado e 75-85% dos casos de pré-câncer da vagina avançado.
A vacina nonavalente tem indicação para homens e mulheres entre 9 e 45 anos, mesmo para quem já tenha tomado a vacina quadrivalente ou tenha tido exposição prévia ao HPV. Quando aplicada antes dos 14 anos, a vacina nonavalente previne 80% dos casos de infecção pelo HPV, contra 50% quando aplicada entre 14 e 17 anos, salientando a importância da política de vacinação em escolas. No entanto, mulheres que tiveram NIC 3 têm até 15% de risco aumentado para recidivas e irão se beneficiar da vacina mesmo na idade adulta. Pacientes que são submetidas a procedimentos cirúrgicos, como conização para Ca de útero, têm o risco de recidiva diminuído em até 60%, quando recebem a vacina nonavalente antes ou após o procedimento.
Outro fato importante diz respeito ao tempo para o clearance viral do HPV. Ele normalmente ocorre entre 12 e 24 meses e pode ter um período mais estendido em idosos, aumentando o risco do desenvolvimento de câncer, enfatizando a importância da vacinação em adultos. O tipo de HPV 33, que não fazia parte da vacina quadrivalente, está especialmente relacionado à maior permanência no epitélio. Anualmente 17 milhões de mulheres são diagnosticadas com Ca de útero no Brasil, o que acarreta 25 mil mortes. O Brasil também é o país em que o câncer de pênis apresenta maior prevalência e semelhante importância para o de ânus, além do de garganta. Estudos de imunogenicidade demonstram que a vacinação contra o HPV é capaz de gerar anticorpos em 90% dos indivíduos, contra cerca de 70% em pessoas que adquiriram imunidade natural, sem vacinação. Sabe-se também que a vacinação em diferentes faixas de idade e sexo é muito mais eficaz. Globalmente, a taxa de vacinação para HPV atinge 55% para a primeira dose e 45% para a segunda. No Brasil, estamos em 70% para meninas e 50% para meninos com até 15 anos que completaram 2 doses.
A vacina contra o HPV é um método altamente eficaz para a prevenção de diferentes tipos de câncer, estando disponível desde 2006 nos EUA, já tendo sido aplicadas cerca de 500 milhões de doses sem registros de reações adversas graves.
O Richet disponibiliza, além da vacina Gardasil 9 (nonavalente para HPV), os testes Colpocitologia, Pesquisa e tipagem de HPV por PCR e o Painel Molecular para IST (C. trachomatis, N. gonorrhoeae, T. vaginalis, U. uralyticum, M. genitalium e M. hominis) em meio líquido.