A histoplasmose é uma micose sistêmica, com características de doença granulomatosa com predileção pelo pulmão e órgãos do sistema imunológico, causada pelo fungo Histoplasma capsulatum var. capsulatum, que é um fungo dimórfico. O seu habitat natural é o solo, principalmente aqueles ricos em dejetos de pássaros e morcegos. O fungo pode ser encontrado em locais como cavernas, árvores de pernoite, ocos de árvores, galinheiros, minas, caixas d'água, construções velhas abandonadas, porões e forros de casas.
A doença tem incidência mundial, sendo que a área de maior prevalência é a região centro-oeste do território norte-americano, correspondente à região dos vales dos grandes rios americanos, Ohio, Mississipi e Missouri. No Brasil, incide em todas as regiões, mas o estado do Rio de Janeiro, com várias microepidemias descritas, é responsável pelo maior número de casos.
A gravidade da doença está diretamente relacionada à intensidade da exposição, quantidade de esporos inalados e imunidade do paciente. Em indivíduos saudáveis, uma baixa intensidade de exposição geralmente causa infecção assintomática ou oligossintomática, com curso autolimitado. Quando ocorre uma exposição mais intensa, os indivíduos podem apresentar doença pulmonar grave levando à falência respiratória e até mesmo à morte.
Nas formas agudas, a histoplasmose é uma doença de regressão espontânea. A forma assintomática ou pouco sintomática é a mais frequente, e muitas vezes pode passar despercebida ou ser confundida com viroses respiratórias como a Influenza. Febre, tosse pouco produtiva persistente, cefaleia, astenia, dor retroesternal e prostração intensa são frequentes. A palidez cutânea é um sinal marcante. O aumento dos gânglios linfáticos superficiais e a hepatoesplenomegalia são achados característicos da forma pulmonar difusa aguda. Os sinais físicos pulmonares são inexpressivos. O período de incubação varia de 3 a 14 dias. Os achados radiológicos mais frequentes nessa forma são as linfonodomegalias hilares bilaterais com infiltrado reticulonodular bilateral. Quando a linfonodomegalia hilar é unilateral, esse aspecto é indistinguível do complexo primário da tuberculose pulmonar. Na forma disseminada, que compromete organismos imunodeprimidos primariamente ou secundariamente, a febre está sempre presente e em geral é arrastada. Tosse, dispneia e astenia são queixas frequentes. Nos casos mais avançados, múltiplos órgãos estão comprometidos, levando a quadros polimórficos. Hepatoesplenomegalia, anemia, trombocitopenia e leucopenia podem estar presentes. As formas disseminadas agudas do tipo infantil e a forma juvenil subaguda são muito parecidas, com o comprometimento de vários órgãos e sistemas. Se não tratadas, essas formas evoluem para o óbito. Na forma disseminada crônica do adulto, muitas vezes o pulmão não é afetado. O comprometimento do sistema nervoso central está associado à doença disseminada, ocorrendo em 40% dos casos. A histoplasmose pode também se apresentar sob a forma de um nódulo pulmonar solitário, isto é, o histoplasmoma, cujo diagnóstico diferencial principal é o câncer de pulmão. É uma lesão de centro necrótico e/ou calcificado, circundada por cápsula fibrótica.
O diagnóstico laboratorial é feito através das pesquisas diretas, cultivo e histopatologia de material respiratório, preferentemente obtido por broncoscopia. Apesar de ser considerado como o teste padrão ouro para diagnóstico definitivo, a cultura pode apresentar a limitação do tempo para o crescimento do fungo, que pode chegar a 30 dias, além da sensibilidade, que é dependente do grau e da fase da doença.
Os testes sorológicos, que pesquisam a presença de anticorpos também podem ser de grande utilidade, sendo empregadas duas metodologias principais, a imunodifusão dupla, que detecta a reatividade contra as bandas H e M e a fixação do complemento. Apesar de apresentarem bom grau de sensibilidade, > 90%, os testes sorológicos podem ter a limitação do período para a soroconversão, de 2 a 6 semanas. Outra limitação diz respeito aos pacientes imunocomprometidos, cuja produção de anticorpos está suprimida.
A pesquisa do Antígeno Urinário galactomanana para Histoplama é considerada de grande utilidade, principalmente nas formas aguda e disseminada grave. Apesar de poder apresentar reatividade cruzada com Paracoccidioides brasiliensis e Blastomyces dermatitidis, essas doenças podem ter quadro clínico distinto e também ser detectadas por testes sorológicos específicos. Uma das vantagens da pesquisa do Antígeno Urinário é a detecção precoce, muito antes do surgimento dos anticorpos. A sensibilidade da detecção do antígeno é maior nos pacientes com doença aguda disseminada ou na histoplasmose pulmonar aguda (histoplasmose epidêmica). O antígeno é detectado na urina em 92% dos casos com a forma disseminada e em mais de 75% daqueles com histoplasmose aguda. Na histoplasmose subaguda, pode ser detectado em apenas 25% dos casos e em menos de 10% na forma pulmonar crônica. Nos doentes com AIDS, a antigenúria tem sensibilidade de 95%. Em um estudo multicêntrico, utilizando 589 amostras de urina de pacientes da Colômbia e Guatemala, Cáceres D.H. e al, obtiveram sensibilidade de 98% e especificidade de 97% para o diagnóstico de doença disseminada em imunossuprimidos.
Teste: Antígeno Urinário Galactomanana para Histoplasma
Amostra: Urina ao acaso, sem necessidade de qualquer preparo ou frasco especial.
Tempo para o Resultado: Em até 7 dias úteis.
Sensibilidade: > 90%
Especificidade: > 95%
Limitações: Reatividade cruzada com P. brasiliensis e B. dermatitidis.
Vantagem em relação à sorologia e cultura: O antígeno urinário pode ser detectado bem antes do surgimento de anticorpos e do crescimento em cultura.
Referências Bibliográficas
1. Miguel Abidon Aidé, Curso de Atualização Micoses, Capítulo 4 – Histoplasmose, Jornal Brasileiro de Pneumologia, volume 35, número 11, 2009.
2. Diego H. Cáceres, Blanca E. Samayoa, Narda G. Medina, Angela M. Tobón, Brenda J. Guzmán,e Danicela Mercado, Angela Restrepo, Tom Chiller, Eduardo E. Arathoon, Beatriz L. Gómeza, Multicenter validation of commercial antigenuria reagents to diagnose progressive disseminated histoplasmosis in People Living wiht HIV/AIDS in two latin américa countries. Journal of Clinical Microbiology, June 2018, volume 56, issue 6.
3. Xiaochun Zhang, Bill Gibson, Jr., Thomas M. Daly, Evaluation of Commercially Available Reagents for Diagnosis of Histoplasmosis Infection in Immunocompromised Patients, Journal of Clinical Microbiology, December 2013 Volume 51 Number 12.
4. Elitza S. Theel, Julie A. Harring, Ala S. Dababneh, Leonard O. Rollins, Jeannie E. Bestrom, Deborah J. Jespersena, Reevaluation of Commercial Reagents for Detection of Histoplasma capsulatum Antigen in Urine, Journal of Clinical Microbiology, April 2015, volume 53, number 4.
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