Febre Oropouche e Mayaro, Diagnóstico Laboratorial


19.02.18

As florestas abrigam uma grande variedade de vírus causadores de doenças. Somente durante o período de 1954 a 1988, foram isoladas na região Amazônica brasileira, 187 espécies de vírus em mamíferos (incluindo humanos) e mosquitos. Com o crescimento das cidades, que muitas vezes acabam avançando de forma pouco ordenada e com pouca cautela quanto à preservação do meio-ambiente, principalmente no que tange cidades próximas à florestas e reservas ambientais, alguns tipos de vírus causadores de doenças, que eram restritos ao ambiente silvestre, passam a ser isolados no meio urbano. O avanço dos casos de Febre Amarela é um dos melhores exemplos. Além desses, podemos também já citar outros vírus, como o Oropouche e Mayaro, que já são motivo de preocupação às autoridades sanitárias.

Tanto o vírus Oropouche quanto o Mayaro são Arboviroses, guardando, portanto, semelhanças como os vírus da Dengue, Zika, Chikungunya e da Febre Amarela. Assim como acontece com essas outras doenças, Oropouche e Mayaro têm insetos como vetores e responsáveis pela sua transmissão para humanos. Estes vírus que estavam restritos a vetores silvestres, mostram agora adaptação a vetores urbanos, como o Culicoides paraensis, que, filogeneticamente é uma mosca e não um mosquito, vulgarmente conhecido como "borrachudo" ou "maruim", bastante prevalente em regiões próximas a florestas e cuja picada costuma ser mais alergênica e provocar maior sensação de coceira do que outras espécies, como o Culex e o Aedes, que, podem transmitir a Febre Mayaro.

O nome dessas doenças geralmente é dado em função da localização dos primeiros relatos de casos. Ambos foram identificados e isolados pela primeira vez em Trinidad e Tobago, na década de 1950-60, nas respectivas regiões de Oropouche e Mayaro. Essas viroses, principalmente Oropouche, se mantêm com maior prevalência nas regiões amazônicas, em especial Venezuela, Perú e Brasil e também próximo a áreas de florestas da América Central. Recentes estudos, demonstram a presença do vírus Oropouche também na Argentina, Bolívia, Colômbia e Equador. Na verdade, a doença causada pelo vírus Oropouche já é uma das principais causas de doença febril no Brasil, em especial nas regiões norte e nordeste, tendo inclusive sendo proposta como candidata à próxima epidemia nas Américas, junto com outras doenças como a Encefalite Equina Venezuelana e a Febre Mayaro. No Brasil, o vírus foi isolado no estado do Pará, em uma espécie de preguiça, em 1960, coincidindo com as obras da rodovia Belém-Brasília. Já no ano seguinte, em 1961, houve a ocorrência de um surto na cidade de Belém, atribuído ao vírus.

Uma das principais limitações na identificação dessas doenças era a falta de recursos diagnósticos precisos, já que o quadro de sinais e sintomas pode ser muito semelhante a outras viroses, como as acima citadas. Veja os principais sintomas, por ordem de frequência.

Febre, Cefaleia, Mialgia, Artralgia, Calafrios, Fotofobia, Tonteiras, Rash cutâneo, Náuseas/Vômitos, Sangramentos, Dor retro orbital, Epigastralgia, Anorexia, Adinamia.

O diagnóstico pode ser feito através da pesquisa do RNA viral no sangue (RNA PCR) e também pela pesquisa de anticorpos IgG e IgM. Assim como acontece em outras arboviroses, a pesquisa viral por RNA PCR deve ser realizada no início da sintomatologia, de preferência até o quinto dia e a pesquisa de anticorpos após o quinto dia.

 

Fontes:

D. Romero-Alvares, L.E. Escobar, Microbes and Infections, 2017 1-12
Travassos da Rosa et al, Am. J. Trop. Med. Hyg., 96(5), 2017, pp. 1019–1030

 

 

 

Dr. Helio Magarinos
Diretor Médico
CRM 52.47173-0
Diretor do Richet Medicina & Diagnóstico, Especialista em Patologia Clínica e Medicina Laboratorial com MBA em Gestão de Negócios pelo IBMEC. Membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clinica (SBPC), da American Association for Clinical Chemistry (AACC), da American Society for Microbiology (ASM), da American Molecular Pathology (AMP) e da European Society for Microbiology and Infectious Diseases (ESCMID).