Esteatose Hepática: Dados Clínicos, Evolução, Estadiamento e Ferramentas Diagnósticas


21.10.24

Dados Epidemiológicos da Esteatose Hepática

1. Prevalência Global:

• A esteatose hepática afeta cerca de 25% da população mundial. Estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas tenham algum grau de doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD, do inglês Non-Alcoholic Fatty Liver Disease), que inclui tanto a esteatose hepática simples quanto a MASH (Esteato-hepatite Metabólica).

• A prevalência de NAFLD é particularmente elevada em regiões com alta incidência de obesidade e diabetes tipo 2, como a América do Norte (24%-26%) e Europa (20%-30%).

 

2. Prevalência na América Latina e no Brasil:

• Na América Latina, a prevalência da esteatose hepática varia entre 25% e 49,6%, sendo uma das mais altas do mundo

• No Brasil, aproximadamente 30% a 35% da população adulta sofre de esteatose hepática, com prevalência ainda maior entre pessoas com obesidade, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica.

• Em crianças e adolescentes, a prevalência de NAFLD no Brasil varia de 3% a 10% na população geral, aumentando para até 53% entre crianças obesas.

                   
                     

3. Evolução clínica e prognóstico:

• A esteatose hepática simples é geralmente benigna e assintomática, mas cerca de 20% a 30% dos pacientes com NAFLD podem evoluir para MASH, caracterizada pela presença de inflamação e danos celulares.

• Entre os pacientes com MASH, aproximadamente 15% a 20% podem progredir para fibrose significativa (F2 a F4) ao longo de 10 anos, aumentando o risco de desenvolvimento de cirrose, insuficiência hepática e carcinoma hepatocelular (HCC).

• A cirrose é um risco significativo em pacientes com MASH, com 1 em cada 5 pacientes com fibrose avançada progredindo para cirrose em menos de 2,5 anos.

                     
                         

 

Evolução e Estadiamento da Esteatose Hepática

A esteatose hepática pode progredir através dos seguintes estágios:






Importância dos Testes ELF e ERM no Contexto Clínico

Os testes ELF (Enhanced Liver Fibrosis) e ERM (Elastometria Hepática por Ressonância Magnética) desempenham papéis fundamentais no diagnóstico e manejo da esteatose hepática e suas complicações.

Teste ELF (Enhanced Liver Fibrosis)

O Teste ELF é um exame de sangue não invasivo utilizado para diagnosticar a gravidade da fibrose hepática e prever o risco de progressão em doenças hepáticas crônicas. Ele mede três biomarcadores diretamente relacionados ao processo de fibrose:

• ácido hialurônico (HA),

• propeptídeo amino-terminal do procolágeno tipo III (PIIINP),

• inibidor tecidual da metaloproteinase-1 (TIMP-1).

Função Diagnóstica e Prognóstica:

Avalia a gravidade da fibrose hepática com base em níveis específicos:



Vantagens no Estadiamento Inicial: Ideal para triagem em pacientes assintomáticos ou com fatores de risco, permitindo a identificação precoce da fibrose hepática significativa sem a necessidade de biópsia.


Monitoramento Contínuo: Pode ser repetido para monitorar a resposta ao tratamento antifibrótico, facilitando decisões terapêuticas mais rápidas e eficazes.


Comparação Resumida do Teste ELF com Outros Testes de Marcadores Bioquímicos

Elastometria Hepática por Ressonância Magnética (ERM)

A Elastometria Hepática por Ressonância Magnética (ERM) é uma técnica avançada e não invasiva que utiliza ressonância magnética para avaliar propriedades mecânicas e  obter, indiretamente, a quantificação da rigidez de órgãos e tecidos. Na avaliação da rigidez hepática, os resultados obtidos apresentam correlação significativa com o grau de fibrose verificado histologicamente.

Comparação Resumida da Elastometria Hepática por Ressonância Magnética (ERM) com Outros Métodos Diagnósticos por Imagem

Conclusão

A combinação dos testes ELF e ERM proporciona uma abordagem abrangente para o diagnóstico, estadiamento e manejo da esteatose hepática e suas complicações, podendo, em alguns casos, substituir ou corroborar o diagnóstico através de métodos invasivos, como a biópsia hepática.  

Os testes ELF e ERM se encontram disponíveis no Richet Medicina & Diagnóstico.

 

Referências Bibliográficas

Méndez-Sánchez, N., et al. (2021). "The prevalence of NAFLD in Latin America: A systematic review and meta-analysis." Annals of Hepatology, 20, 100252.

Cotrim, H. P., et al. (2021). "Prevalência de doença hepática gordurosa não alcoólica no Brasil: Análise baseada em dados populacionais." Revista Brasileira de Hepatologia, 17(1), 32-40.

Carvalho, E., et al. (2022). "Pediatric non-alcoholic fatty liver disease in Brazil: Prevalence and risk factors." Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition, 75(4), 482-488.

Younossi, Z.M., et al. (2018). Global Epidemiology of NAFLD and NASH: A Systematic Review. Hepatology, 64(1), 73-84.

Li, J., et al. (2019). Prevalence of NAFLD in different ethnic groups: A systematic review and meta-analysis. Hepatology Research, 49(2), 277-287.

Zein, C.O., et al. (2019). Nonalcoholic Fatty Liver Disease in Latin America: A Narrative Review of Prevalence, Risk Factors, and Outcomes. Journal of Clinical Gastroenterology, 53(6), 475-483.

Cotrim, H.P., et al. (2019). The Prevalence and Risk Factors of Non-Alcoholic Fatty Liver Disease in Brazil. World Journal of Hepatology, 11(2), 241-249.

Schwimmer, J.B., et al. (2006). Prevalence of Fatty Liver in Children and Adolescents. Pediatrics, 118(4), 1388-1393.

Estes, C., et al. (2018). Modeling the epidemic of nonalcoholic fatty liver disease demonstrates an exponential increase in burden of disease. Hepatology, 67(1), 123-133.

Dulai, P.S., et al. (2017). Increased Risk of Mortality by Fibrosis Stage in Nonalcoholic Fatty Liver Disease: Systematic Review and Meta-analysis. Hepatology, 65(5), 1557-1565.

Tapper, E.B., et al. (2018). Noninvasive imaging biomarker assessment of liver fibrosis by elastography in NAFLD. Liver International, 38(6), 1163-1172.

Newsome, P.N., et al. (2021). Guidelines for the diagnosis and treatment of nonalcoholic fatty liver disease. Hepatology, 73(1), 359-368.

Rinella, M.E., et al. (2018). Management of NAFLD in 2018: A new set of treatment algorithms. Clinical Liver Disease, 11(3), 58-64.

Wang, Y., et al. (2019). Magnetic Resonance Elastography versus Transient Elastography and Serum Biomarkers for Liver Fibrosis Assessment: A Meta-Analysis. Journal of Magnetic Resonance Imaging, 49(2), 355-368.

Singh, S., et al. (2016). Accuracy of Elastography and Magnetic Resonance Imaging in Diagnosing Fibrosis and Cirrhosis: A Systematic Review. Clinical Gastroenterology and Hepatology, 14(10), 1629-1637.

Dr. Helio Magarinos
Diretor Médico
CRM 52.47173-0
Diretor do Richet Medicina & Diagnóstico, Especialista em Patologia Clínica e Medicina Laboratorial com MBA em Gestão de Negócios pelo IBMEC. Membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clinica (SBPC), da American Association for Clinical Chemistry (AACC), da American Society for Microbiology (ASM), da American Molecular Pathology (AMP) e da European Society for Microbiology and Infectious Diseases (ESCMID).