As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) compreendem um grupo específico de doenças, tendo como principais a Doença de Crohn (DC), a Colite Ulcerativa (CU) e a Colite Indeterminada (CI). Estas doenças podem ser provenientes de respostas exacerbadas, inatas ou adquiridas, em indivíduos geneticamente predispostos a determinados microrganismos comensais. Atualmente a incidência destas doenças vem crescendo em todo o mundo, por influencia da origem étnica, do estilo de vida, de certas áreas geográficas e pela presença de regiões suscetíveis em pelo menos 12 cromossomos.
A diferenciação entre DII e Doenças Intestinais Funcionais (DIF), como a Síndrome do Intestino Irritável (SII), pode ser complexa, já que apresentam sintomatologia bastante semelhantes, incluindo diarréia, dor e distensão abdominal. Em muitos casos há necessidade de aplicação de métodos mais invasivos, como a colonoscopia com biópsia e exame histopatológico. Apesar da distinção entre DC e CU ser normalmente clara, cerca de 10% a 20% dos casos podem ser classificados como colite indeterminada (CI).
A utilização de métodos menos invasivos vem ganhando maior atenção nos últimos anos. Os biomarcadores para DII, incluindo os sorológicos, os fecais e os de predisposição genética (polimorfismos), têm se tornado ferramentas úteis no auxílio diagnóstico (principalmente de exclusão), na determinação da atividade, no acompanhamento terapêutico e no prognóstico da doença. Dentre os diversos marcadores que já foram propostos para esta finalidade, são destacados os realizados em amostras de fezes, já que estão mais diretamente ligados à atividade intestinal e também porque são totalmente não invasivos. Dentre estes, a Lactoferrina e a Calprotectina são os mais utilizados.
A Calprotectina é uma proteína de 36 kDa ligada ao cálcio e ao zinco abundantes no citoplasma dos neutrófilos e, em menor quantidade, também nos monócitos e macrófagos reativos. As funções conhecidas da Calprotectina estão associadas aos processos de defesa através da ação do zinco (atividade antibacteriana e antifúngica). A Calprotectina pode ser detectada em praticamente todos os líquidos biológicos e a sua concentração está diretamente correlacionada ao grau de inflamação na amostra. Em amostras de fezes, a Calprotectina se apresenta como um bom marcador biológico por permanecer estável por até sete dias à temperatura ambiente, se conservando resistente à ação bacteriana, e também por se apresentar uniformemente distribuída na amostra.
Na inflamação intestinal, a barreira da mucosa intestinal é quebrada e ocorre a migração de leucócitos para o lúmen intestinal, levando à elevação da concentração de Calprotectina nas fezes, que se correlaciona diretamente com a quantidade de granulócitos e outras células de defesa no intestino. Por este motivo, as concentrações de Calprotectina se encontram elevadas em DII e também, em menor proporção, em outras situações, neoplasias e pólipos. Os níveis de Calprotectina nas fezes são cerca de 6 vezes maiores do que os encontrados no sangue, o que a torna um bom marcador de inflamação intestinal.
Autores indicam que a Calprotectina pode ser utilizada para a discriminação entre os pacientes que necessitam de estudos mais invasivos como a colonoscopia e que, quando utilizado um ponto de corte de 50 µg/g nas fezes, a colonoscopia pode deixar de ser feita em até 50% dos pacientes, indo até 67% dos pacientes, quando utilizado o ponto de corte de 100 µg/g nas fezes. Como marcador de atividade de doença, estudos comparando a dosagem de Calprotectina fecal com colonoscopia e resultado das biópsias, a classificam como o melhor biomarcador.
Em relação à resposta terapêutica e também ao prognóstico (probabilidade de relapso), a maioria dos estudos aponta a Calprotectina e a Lactoferrina fecais como os melhores marcadores biológicos para esta finalidade. Alguns autores, estudando pacientes com DII e comparando a dosagem de Calprotecitna fecal, VHS e PCR, concluíram que ela estaria fortemente associada à inflamação colorretal, indicando doença orgânica, e que poderia ser utilizado como avaliação de resposta terapêutica, rastreamento de pacientes assintomáticos e predição de relapso de DII.
Por ser um método não invasivo, a utilização deste parâmetro vem crescendo nos últimos anos e a sua adaptação a equipamentos totalmente automatizados a tornam um método mais simples e preciso, que tende a ganhar cada vez mais espaço como ferramenta ao apoio diagnóstico.
Para a dosagem de calprotectina fecal é necessário enviar uma amostra recente de fezes colhida em frasco sem conservantes, que disponível para ser retirado em qualquer unidade do Laboratório Richet; A Dosagem de Calprotectina Fecal é realizada por metodologia automatizada ELiA e o resultado é disponibilizado em até 7 dias.