A importância da prevenção da meningite através de vacinas meningocócicas


23.11.22

As meningites representam um grave problema de saúde pública global, afetando milhões de pessoas em todo o mundo.

 

A meningite pode surgir por inúmeras causas, incluindo infecção por patógenos virais ou fúngicos, câncer e várias doenças imunológicas. Entre as bactérias, o causador mais comum é a Neisseria meningitidis, fonte de inúmeras epidemias em todo o mundo e alvo de intensa pesquisa bacteriológica.

 

O agente etiológico da meningite meningocócica

 

A meningite meningocócica é causada pelas bactérias Neisseria meningitidis. A partir do trato respiratório superior tais bactérias podem passar para a corrente sanguínea e atravessar a barreira hematoencefálica, camadas de células que protege a entrada de toxinas no tecido cerebral, resultando na inflamação destas membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal.

 

A N. meningitidis é classificada em sorogrupos com base na composição da cápsula bacteriana de polissacarídeo: os seis principais sorogrupos causadores de doenças são designados A, B, C, W, X e Y. Quatro dos seis sorogrupos causadores de doenças (A, C, Y e W) podem ser efetivamente prevenidos com as vacinas de conjugados da proteína de polissacarídeo capsular; no entanto, essas vacinas conjugadas não são eficazes contra o sorogrupo meningocócico B (MnB). As vacinas contra o meningococo B utilizam proteínas recombinantes da bactéria adsorvidas.

 

Epidemiologia

 

A incidência da meningite em qualquer país é variável devido a flutuações temporais, geográficas e dos sorogrupos.

 

Estudos epidemiológicos dos sorogrupos indicam que dos cinco grupos meningocócicos causadores das doenças (ou seja, A, B, C, W e Y), o sorogrupo B é prevalente em muitas partes das Américas, Austrália, Europa e norte da África. Já os sorogrupos A e C ocorrem com frequência em alguns países da América do Sul,  Ásia e África. No Brasil, o sorogrupo mais comum é o tipo C (80% dos casos), seguido do tipo B.

 

Patogênese e diagnóstico da doença meningocócica em lactentes

 

A doença meningocócica acomete indivíduos de todas as faixas etárias, porém apresenta uma maior incidência em crianças menores de 5 anos, especialmente em lactentes entre 3 e 12 meses.

 

Vários fatores contribuem para o aumento risco da meningite em lactentes, e a imaturidade do sistema imunológico é um destes fatores que torna essa população mais suscetível a infecções e risco.

 

Embora os anticorpos maternos adquiridos passivamente durante a gestação (ou seja, aqueles gerados pela mãe, resultado de exposição prévia as bactérias), possam fornecer proteção em algumas crianças pequenas, os níveis de proteção diminuem nos primeiros meses de vida, já que esses anticorpos são catabolizados ao longo tempo. Assim, são necessárias estratégias eficazes para proteger lactentes contra a meningite.

 

Os sinais e sintomas da meningite em lactentes são tipicamente inespecíficos e frequentemente parecidos com os sintomas iniciais de uma infecção viral febril não grave, os quais permitem a progressão rápida da doença sem tratamento.

 

 A doença progride rapidamente entre todos os pacientes pediátricos, com uma média estimada entre o início e a admissão hospitalar de 13 horas, em comparação com 20 a 22 horas naqueles de 5 a 16 anos.

 

Os sintomas em lactentes (ou seja, aqueles que ocorrem de 0 a 4 horas após início) incluem febre e irritabilidade, seguidas de má alimentação, náuseas/vômitos, coriza e sonolência.

 

Sintomas tardios (ou seja, aqueles que ocorrem 13 a 20 horas após início) incluem fotofobia, inconsciência, abaulamento da fontanela, torcicolo, convulsão e sede. Além disso, os bebês experimentam uma taxa mais alta, em comparação com os adultos, de complicações a longo prazo (em particular, perda auditiva e convulsões).

 

Vacinação de lactentes contra invasores da doença meningocócica

 

Apesar de os programas de vacinação já estarem bem estabelecidos em todo o mundo durante a infância, os lactentes e especialmente neonatos ainda representam uma população vulnerável a muitas doenças infecciosas, incluindo a meningite. Portanto, uma rotina de imunização eficaz para crianças contra essas doenças continua sendo uma prioridade de saúde.

 

Vacinas disponíveis contra a doença meningocócica

 

As vacinas conjugadas atualmente disponíveis oferecem proteção para os sorogrupos A, C, W135 e Y. Os polissacarídeos específicos destes sorogrupos não geram resposta imune adequada em crianças abaixo de 2 anos em função da ausência de resposta consistente a antígenos T independentes, e mesmo nos pacientes acima de 2 anos, a proteção conferida é de duração limitada, não conseguindo induzir memória imunológica. A conjugação dos polissacarídeos às proteínas carreadoras (toxina diftérica mutante atóxica ou o toxoide tetânico) muda a resposta polissacarídica para uma reposta T dependente. As células B, ao reconhecerem o polissacarídeo, conseguem apresentar os epítopos peptídicos às células T-CD4+, e desta maneira, esse complexo antigênico é capaz de induzir a produção de níveis elevados de anticorpos, maior avidez dos anticorpos e maior atividade bactericida sérica em lactentes jovens. Induzem, ainda, a formação de populações de linfócitos B de memória de duração prolongada, propiciando uma excelente resposta (efeito booster) na reexposição.

 

O avanço na prevenção da doença meningocócica contra o sorogrupo B

 

Nos Estados Unidos, o sorogrupo B é a causa mais comum de doença meningocócica, e é responsável por quase metade de todos os casos em pessoas de 17 a 22 anos. De fato, os meningococos do sorogrupo B foram responsáveis pelos recentes surtos da doença meningocócica nas universidades do país.

 

O desafio para a proteção contra esse sorogrupo deve-se ao fato que os antígenos do sorogrupo B quando interagem com o sistema imune do hospedeiro ao invés de produzirem uma resposta imune positiva, causam um estado de ausência de resposta, como por exemplo, uma supressão da resposta imune que deveria ocorrer naturalmente.

 

Desta maneira, o desenvolvimento de vacinas para o sorogrupo B concentrou-se na identificação de potenciais alvos capazes de provocar respostas imunes amplamente protetoras. Atualmente, tem sido utilizadas proteínas bacterianas recombinantes adsorvidas com adjuvantes, que são capazes de provocar uma resposta imune adequada.

 

Num recente estudo, publicado na revista Vaccine, foram demonstrados dados de segurança do programa de uma destas vacinas (MenB-FHbp) em indivíduos saudáveis com 10 anos ou mais. Neste trabalho, os autores avaliaram grandes ensaios clínicos, os quais demonstraram um perfil favorável de segurança e tolerabilidade da vacina nestes indivíduos com 10 anos ou mais.

 

Em conclusão, devido a elevada letalidade, a despeito de intervenção terapêutica precoce da doença meningocócica em todo o mundo, e particularmente em lactentes e crianças jovens, torna-se de grande importância a prevenção dessa doença com as vacinas disponíveis atualmente.

 

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Referências:

 

Presa J, Serra L, Weil-Olivier C, York L. Preventing invasive meningococcal disease in early infancy. Hum Vaccin Immunother. 2022 Nov 30;18(5):1979846. doi: 10.1080/21645515.2021.1979846. Epub 2022 Apr 28. PMID: 35482946; PMCID: PMC9196819.

 

Gandhi A, Balmer P, York LJ. Characteristics of a new meningococcal serogroup B vaccine, bivalent rLP2086 (MenB-FHbp; Trumenba®). Postgrad Med. 2016 Aug;128(6):548-56. doi: 10.1080/00325481.2016.1203238. Epub 2016 Jul 7. PMID: 27467048.

 

Beeslaar J, Mather S, Absalon J, Eiden JJ, York LJ, Crowther G, Maansson R, Maguire JD, Peyrani P, Perez JL. Safety data from the MenB-FHbp clinical development program in healthy individuals aged 10 years and older. Vaccine. 2022 Mar 15;40(12):1872-1878. doi: 10.1016/j.vaccine.2022.01.046. Epub 2022 Feb 11. PMID: 35164991.