Richet 65 anos
Dois anos após o término da segunda guerra mundial o mundo ainda não tinha uma ideia bem formada sobre o que havia acontecido de fato. Havia a sensação de alívio e ao mesmo tempo de perda pelo que não poderia ser mais recuperado. Entretanto, foi durante o período bélico que as novas ideias e avanços tecnológicos da indústria e ciência surgiram, de forma e velocidade impressionantes para a época. O desenvolvimento da aviação e da indústria automobilística, que se observou no período pós-guerra, só foi possível devido à corrida entre as principais potências nesta época. Grandes nomes da ciência, conhecidos e desconhecidos foram mobilizados tanto em prol da guerra quanto a uma solução para a paz. A medicina evolui consideravelmente. Um bom exemplo foi a penicilina, uma droga que até então se mostrava promissora, mas ainda não havia sido utilizada em grande escala, passou a ser a grande descoberta do século e salvou muitas vidas no campo de batalha. Também a cirurgia e outras especialidades foram impulsionadas neste período. No pós-guerra, havia um grande estímulo ao desenvolvimento de novas descobertas e também na ciência, como que para compensar tudo que foi perdido durante a guerra.
Foi neste cenário que um jovem de 25 anos, recém-formado pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, juntamente com outros dois jovens colegas, fundou um laboratório de patologia clínica, localizado no que era o centro pulsátil da cidade do Rio de Janeiro, Rua México 47, próximo à Cinelândia. Na época, a especialidade da Patologia Clínica despontava como uma das grandes promessas da medicina. Os testes laboratoriais se tornavam mais precisos e passavam a ser indispensáveis para o diagnóstico, transpassando de forma definitiva a barreira da ciência para ser parte integrante da boa prática médica. Assim como acontecia com outras especialidades médicas, o exercício da patologia clínica estava intrinsecamente ligado não somente ao conhecimento, mas também à habilidade individual, já que não havia ainda a ajuda dos equipamentos automatizados.
O Laboratório Richet foi fundado em 02 de Janeiro de 1947 por Faustino Porto, Wander Mendes Biasoli e Hélio Magarinos Torres. Hélio, desde criança sonhava em ser médico, ao mesmo tempo em que tinha uma grande paixão pelas ciências biológicas e pela pesquisa. Ele achou na patologia clínica a conjunção entre as suas três paixões. A sua infância foi fortemente marcada por tudo que acontecia de importante na França. Filho de um apaixonado pelo país que era o centro cultural do mundo e que acabou se casando com uma francesa, Hélio cresceu ouvindo as histórias dos lugares e das pessoas daquele país, através das conversas travadas entre os seus pais. A sua inclinação para a ciência tornou-o atento a tudo que se falava e escrevia sobre um dos grandes nomes da época, Charles Robert Richet (1850-1935).
Richet foi um homem à frente do seu tempo. Médico, professor de medicina e, acima de tudo, homem da ciência, Richet teve 745 artigos científicos e mais de 10 livros publicados. A sua curiosidade científica fazia com que estudasse a fundo tudo o que lhe parecesse interessante. Recebeu o prêmio Nobel de Fisiologia (Medicina) em 1913, pelos seus estudos sobre uma síndrome, até então sem explicação, que ele denominou de Anafilaxia. Richet estuda a fundo tudo que o intrigava, sempre trabalhando e projetos completamente distintos ao mesmo tempo, desde o intricado mecanismo de defesa desencadeado pela infecção pelo Mycobacterium tuberculosis, até o o desenvolvimento do protótipo do que hoje é o helicóptero e o estudo dos fenômenos sobrenaturais, com uma grande diferença em relação ao que se havia publicado até então: utilizando metodologia rigorosamente científica. Os livros que resultaram desses estudos trazem conclusões interessantes até para os dias de hoje. Além da medicina, Richet participava ativamente das discussões sociais da época, tendo levantado a bandeira em favor da paz e da utilização do esperanto como lingua universal. Além dos mais de 700 artigos científicos, Richet também escreveu novelas, poemas e algumas peças de teatro, com o pseudônimo de Charles Epheyre, tendo dois dos seus poemas premiados pela Academia Francesa.
Aos 53 anos, Hélio não sobreviveu ao pós-operatório de uma cirurgia cardíaca. Apesar da habilidade do cirurgião, os rins pararam de funcionar e o hospital não tinha equipamento de hemodiálise… Foi aí que entrei na história do Richet. Em 1976 eu, com 16 anos, sem entender muito bem o que estava fazendo, me tornei um aficionado pela patologia clínica. Me vi herdeiro de um objeto, que até então era para mim apenas um objeto curioso: um microscópido da marca Wild. Minha mãe me contou que o meu pai a havia pedido para que mo entregasse. A maior especialidade do Richet era a citopatologia ginecológica. Descobrimos que havia um acervo de lâminas cuidadosamente separadas com as descrições das células e suas alterações, deixado pelo meu pai, como que esperando por alguém para estuda-las. Além disso, também descobri na nossa biblioteca 3 livros escritos pelo próprio George Papanicolaou… Foi um período muito difícil para todos nós e o Laboratório Richet sobreviveu graças à coragem e determinação de uma mulher, que apesar de não ser médica, segurou com todas as forças um laboratório de patologia clínica, até que o meu irmão Antônio Eugênio e eu estivéssemos formados em Medicina. Depois de formados, com muita determinação, começamos a investir fortemente em conhecimento e novas tecnologias. Acho que o resto da história vocês já conhecem…
Atualmente, o Richet conta com cerca de 250 colaboradores, possui seis unidades de atendimento e três núcleos técnicos operacionais, além de estar presente no Hospital Samaritano e na Casa de Saúde São José, dois dos melhores hospitais, e também nas melhores clínicas de “Check-up” e de reprodução humana da cidade. Apesar do crescimento e da adaptação ao mercado de medicina diagnostica atual, os princípios fundamentais criados pelos fundadores permanecem ainda mais presentes do que nunca. A Excelência técnica, o Pioneirismo, o investimento em alta tecnologia e a Transparência e Ética, fazem parte de todos os que colaboram com o Richet.
A acreditação e a conquista do selo internacional CAP – College of American Pathologists, obtida em 2010, significaram o reconhecimento do trabalho de todos esses anos para a equipe, e veio somar-se a duas outras importantes certificações, PALC e INMETRO.
Ao completar 65 anos, vislumbra-se o início de uma era em que o diagnóstico laboratorial, em conjunto com a evolução dos métodos de diagnóstico por imagem, terão um papel muito mais marcante não apenas no diagnóstico e tratamento, mas também na prevenção de doenças e cuidados com a saúde. O Richet tem investido em novas tecnologias, com especial interesse nos testes genéticos, seguindo a tendência do que hoje é chamado de “medicina personalizada”. Na minha opinião, o maior desafio para o patologista clínico contemporâneo é conseguir distinguir dentre as centenas de testes que são lançados a cada ano, aqueles que realmente podem trazer benefícios para os médicos e os pacientes. Com a evolução tecnológica, a maior contribuição da patologia clínica não está tanto mais ligada à fase analítica dos exames, mas sim às fases pré- (indicação do melhor teste a ser realizado) e pós-analítica (auxílio na interpretação mais adeguada para cada caso). Neste último contexto, a frase do Charles Richet, proferida há mais de 100 anos, “Ceux qui veullent opposer le laboratorie à la clinique et la clinique au laboratoire, n’ont rien cumpris ni a la clinique ni au laboratoire”, se torna mais atual do que nunca.
A maior contribuição, depois evidentemente dos colaboradores do Richet, foi dada pela classe médica do Rio de Janeiro, que soube reconhecer e apoiar o Richet durante todos estes anos. A todos que nos apoiam e apoiaram, deixamos o nosso MUITO OBRIGADO!
Helio Magarinos Torres Filho
ENGLISH
Two years after the second world war the world had not yet formed a firm idea about what had actually happened. There was a sense of relief while the loss that could not be recovered. However, it was during the war that the new ideas and technological advances in the industry and science arose, and so impressive speed for the time. The development of aviation and automobile industry, which was observed in the postwar period, was only possible because of the race between the major powers at this time. Big names in science, known and unknown were mobilized both in support of the war as a solution for peace. The medicine evolves significantly. A good example is penicillin, a drug that showed promise until then, but had not yet been used on a large scale, became the great discovery of the century and saved many lives on the battlefield. Also surgery and other specialties were driven in this period. In the postwar period, there was a great stimulus to the development of new discoveries in science and also, as if to compensate for all that was lost during the war.
It was in this setting that a young man of 25, recently graduated from the National School of Medicine of Rio de Janeiro, along with two other young colleagues, founded a clinical pathology laboratory, located in what was the center of the pulsating city of Rio de Janeiro , 47 Mexico Street, near the Cinelandia. At the time, the specialty of Clinical Pathology loomed as one of the great promises of medicine. Laboratory tests became more accurate and happened to be indispensable for the diagnosis, trespassing permanently barrier of science to be an integral part of good medical practice. Just as with other medical specialties, the practice of clinical pathology was intrinsically linked not only to knowledge, but also to the individual skill, since there was still the help of automated equipment.
The Richet Laboratory was founded in January 2, 1947 by Faustino Porto, Wander Mendes Biasoli and Helio Magarinos Torres. Helio when was a child dreamed of being a doctor, while he had a great passion for life sciences and research. He found in the clinical pathology conjunction between his three passions. His childhood was strongly marked by everything that happened of important in France. Son of a lover for that country that was the cultural center of the world and who him had married a Frenchwoman, Helio grew up listening to the stories of the places and people of that country through the conversations that take place between their parents. His inclination for science made him aware of everything that was said and wrote about one of the greats of the era, Charles Robert Richet (1850-1935).
Richet was a man ahead of his time. MD, professor of medicine and, above all, a man of science, Richet had 745 scientific articles and over 10 books published. His scientific curiosity caused him to study in depth everything that looked interesting. He received the Nobel Prize in Physiology (Medicine) in 1913 for his studies on the syndrome, hitherto unexplained, which he called anaphylaxis. Richet studied in depth all that intrigued him, and always working completely different projects at the same time, from the intricate defense mechanism triggered by infection with Mycobacterium tuberculosis, to the prototype development of what is now the helicopter and the study of supernatural phenomena, with a big difference from what had hitherto published: using rigorous scientific methodology. The books that resulted from these studies bring up interesting findings for today. Besides medicine, Richet participated actively in the discussions of the social season, having raised the flag for peace and the use of Esperanto as a universal language. Besides the more than 700 scientific articles, Richet also wrote novels, poems and some plays, under the pseudonym Charles Epheyre having two of his poems awarded by the French Academy.
At 53, Helio not survived the postoperative period of cardiac surgery. Despite the skill of the surgeon, the kidneys have stopped working and the hospital had no hemodialysis equipment … That’s when I walked in the history of Richet. In 1976 I, at age 16, without quite understanding what I was doing, I became a fan for clinical pathology. I saw heir of an object, which until then was for me just a curious object: a microscopy Wild brand. My mother told me that my father had asked her to deliver it to me. Ther Most specialty of the Richet Laboratory was gynecological cytology. We found that there was a collection of separate slides carefully to the descriptions of the cells and its amendments, left by my father, as if waiting for someone to study them. Also, I found in our library three books written by George Papanicolaou own … It was a very difficult period for all of us and Laboratory Richet survived thanks to the courage and determination of a woman who, despite not being a doctor, with all forces held a laboratory of clinical pathology, until my brother Anthonio Eugenio and I were trained in Medicine. Once formed, with great determination, we began to invest heavily in new technologies and knowledge. I think the rest of the story you already know …
Currently, Richet has about 250 employees, has six service centers and three operational cores technicians, besides being present in the Samaritano Hospital and Casa de Saúde São Jose, two of the best hospitals, and also in the best clinics “Check -up ” and human reproduction center of the city. Despite the growth and adaptation to market medical diagnoses today, the fundamental principles established by the founders are still more present than ever. The Technical Excellence, the Pioneer, investment in high technology and Ethics and Transparency, are part of all who collaborate with Richet.
The accreditation and conquer the international seal CAP – College of American Pathologists, obtained in 2010, meant the recognition of the work all these years for the team, and was compounded by two other important certifications, PALC and INMETRO.
At the age of 65, one glimpses the beginning of an era in which the diagnostic laboratory, together with the evolution of diagnostic imaging, have a much more striking not only in diagnosis and treatment, but also prevention of diseases and health care. The Richet has invested in new technologies, with particular interest in genetic testing, following the trend of what is now called “personalized medicine.” In my opinion, the biggest challenge for contemporary clinical pathologist is able to distinguish among the hundreds of tests that are released every year, those who can really bring benefits to physicians and patients. With technological developments, the greatest contribution of clinical disease is not linked to the more analytical phase of the exams, but to the pre-(indicating the best test to be performed) and post-analytical (adeguada aid in interpretation for each case ). In the latter context, the sentence of Charles Richet, spoken more than 100 years, “Ceux qui veullent opposer le laboratorie à la clinique et la clinique aux laboratoire, n’ont rien cumpris ni a la clinique ni aux laboratoire”, becomes more current than ever.
The largest contribution, then obviously the employees of Richet, was given by the medical profession in Rio de Janeiro, which was able to recognize and support all these years Richet. To all who support us and supported, we make our THANK YOU!
Helio Magarinos Torres Filho