Reações adversas diante o consumo de leite e derivados podem ser classificadas como alergia ou intolerância ao leite e apesar dos sintomas se evidenciarem de forma semelhante, tratam-se de distúrbios diferentes com diferentes formas de diagnóstico.
A intolerância alimentar se manifesta quando a enzima responsável pela degradação do leite, a lactase, apresenta sua atividade comprometida. Neste caso, não há reação imunológica. Indivíduos com intolerância à lactose normalmente apresentam sintomas pouco tempo depois a ingestão do leite mas podem conseguir ingerir alimentos lácteos em pequenas quantidades ou que contenham baixa concentração de lactose sem que haja manifestações clínicas de forma obrigatória. Os efeitos colaterais desta ingestão aparecerão de acordo com o nível da intolerância, ou seja, o nível de atividade enzimática funcional versus a amostragem láctea ingerida.
Para o diagnóstico da intolerância à lactose podem ser recomendados o teste oral, que funciona semelhante a uma curva glicêmica, e o estudo molecular para detecção das principais mutações no gene que codifica a enzima lactase, uma vez que essas alterações genéticas podem comprometer a síntese desta enzima. A pesquisa de anticorpos contra lactose, embora disponível nos laboratórios, não é aceita como sendo clinicamente relevante para garantia do diagnóstico. A intolerância à lactose é uma patologia crônica.
A alergia ao leite, por sua vez, se manifesta de forma mais agressiva. Usualmente não se apresenta apenas com desconforto abdominal, mas também com reações adversas aparentes, como dermatites e inchaços. Esta condição é mais frequentemente observada em crianças e, embora a intolerância à lactose seja uma patologia crônica, a alergia por sua vez é normalmente superada. Para o diagnóstico da alergia ao leite é indicada, além da pesquisa de IgE para o leite em si, que sejam realizadas também as pesquisas para as suas proteínas.
Considerando que 80% do leite é composto de caseína, a IgE para caseína é a proteína de escolha para determinar a intensidade deste quadro alérgico. Altos níveis de IgE para caseína indicam que o paciente provavelmente sofrerá reações mais fortes, inclusive quando exposto aos derivados do leite ou a outros alimentos que utilizam caseína como conservante ou aditivo. A necessidade de restrição alimentar neste grupo é a mais radical.
A dosagem da IgE para caseína pode ser uma aliada para monitorar a evolução do paciente e os níveis de sensibilidade/alergia. É comum que, com o desenvolvimento do organismo e o envelhecimento, esses níveis decresçam e a alergia deixe de se manifestar.
Além da caseína outras proteínas do leite como a alfa lactalbumina, beta lactoglobulina e a albumina sérica bovina também podem ser as responsáveis pelo aparecimento da alergia ao leite. A pesquisa destas condições pode ser realizada também através das dosagens de IgE específica para tais proteínas. Pacientes com sensibilidade à albumina sérica podem apresentar também alergia à carne bovina. Indivíduos com sensibilidade à alfa lactalbumina, beta lactoglobulina e albumina sérica conseguem ingerir leite e seus derivados quando cozidos.
A prevalência é maior de pacientes com intolerância à lactose do que a alergia ao leite. É estimado que apenas 2% das crianças desenvolvam alergia ao leite. Todos os testes mencionados neste texto estão disponíveis no Laboratório Richet. Não há necessidade de preparo especial para a coleta de amostras destes exames.