1- O que é um derrame?
O derrame cerebral, nome comumente utilizado para designar o acidente vascular cerebral (AVC) ou acidente vascular encefálico (AVE), é um evento neurológico de instalação aguda (abrupto), frequentemente grave, podendo levar a risco de morte e com grande possibilidade de gerar sequela (por vezes, grave e debilitante).
2 - Quem apresenta maiores riscos (fatores de risco) de sofrer um AVC?
- Pacientes com mais de 50 anos de idade, principalmente se somado a fatores de risco cardiovasculares;
- Diabéticos;
- Indivíduos com aumento de dosagem do colesterol no sangue;
- Hipertensos;
- Obesos;
- Fumantes;
- Portadores de doença cardíaca (principalmente relacionadas a insuficiência cardíaca congestiva -ICC e/ou arritmias, dentre elas, a fibrilação atrial);
Todos os pacientes que possuam 1 ou mais desses fatores de risco devem ser monitorados clinicamente.
3 - Como suspeitar ou reconhecer um AVC?
É quase sempre em evento agudo/repentino/súbito, em que o paciente evolui rapidamente de um estado neurológico normal para um quadro de perda de força (total ou parcial) ou de sensibilidade, que compromete geralmente uma metade do corpo. Observa-se também de forma frequente, dificuldade de fala, desvios na boca, alteração de coordenação motora, desvios do olhar, alterações visuais (escurecimento, vista embaçada ou turva, visão dupla). Cefaleia (dor de cabeça) também é um sintoma frequente, geralmente muito intensa e súbita. Quando houver a suspeita de AVC, pode-se tentar comprovar o episódio com algumas solicitações simples, como:
- Pedir ao paciente para sorrir com força (observar simetria e possíveis desvios da face);
- Pedir para o paciente levantar os braços (caso não possua fatores limitantes, tais como imobilizações, fraturas, etc);
- Pedir para responder com frases simples para comandos de baixa complexidade.
4 - Quais os principais tipos de AVC?
São basicamente dois, o isquêmico e o hemorrágico.
O mais comum é o isquêmico (cerca de 80% dos casos), e ocorre por obstrução de alguma artéria que nutre um território cerebral, que pode ser decorrente de um "entupimento" crônico deste vaso ou por desprendimento de uma placa ou fragmento (êmbolo), que pode se alojar em um território vascular mais distante.
O AVC hemorrágico é menos frequente (corresponde a cerca de 20% dos casos), e ocorre pela ruptura de alguma artéria (geralmente dilatada previamente, o que chamamos de aneurisma cerebral). Com a ruptura desta artéria, há extravasamento de sangue para o liquor (hemorragia subaracnoidea) ou menos frequentemente para o tecido cerebral.
5 - Tempo é cérebro ("time is brain")
O AVC é sempre uma emergência médica, e o paciente deve ser encaminhado com extrema rapidez ao serviço de emergência. Quanto mais rápido for o diagnóstico e início do tratamento, menores as chances de complicações, risco de morte e desenvolvimento das sequelas.
Caso se confirme a suspeita clínica de AVC, o paciente dever ser imediatamente submetido a uma Tomografia Computadorizada (TC) ou Ressonância Magnética (RM), que mostrarão se o AVC foi isquêmico ou hemorrágico.
Caso o AVC seja isquêmico, se o tempo decorrido do início dos sintomas até o diagnóstico for de até 3 horas (em algumas situações, talvez um pouco mais), o paciente poderá ser selecionado para desobstrução da artéria responsável pelo quadro - é o que chamamos de trombólise. Esse paciente, após minuciosa seleção, pela equipe medica, será monitorizado por todo o procedimento, com o objetivo de limitar a extensão do comprometimento cerebral, evitar sua progressão bem como evitar novos acidentes vasculares. Existe também um tipo frequente de AVC por hemorragia no tecido cerebral, e que é decorrente de controle insuficiente ou insatisfatório da pressão arterial (HAS- hipertensão arterial sistêmica).
6 - Importância dos exames de imagem:
São fundamentais, sobretudo a TC e a RM, para o diagnóstico do AVC na fase aguda, pois além de definir se o evento é isquêmico ou hemorrágico, permitem em grande parte dos casos, definir qual a causa específica, podem predizer o prognóstico e orientar o tratamento mais adequado. Permitem também efetuar o controle evolutivo após o AVC, contribuindo nas estratégias de reabilitação e prevenção de novos eventos. Apresentam também importância no reconhecimento de alguns fatores causais do AVC, particularmente nos hemorrágicos, pois permitem a identificação de aneurismas e de outras malformações vasculares, através da análise da circulação arterial e venosa do encéfalo.
Permitem ainda estudar os vasos do pescoço, quantificar eventuais estreitamentos, obstruções ou dissecções das artérias carótidas e vertebrais, contribuindo para definição de estratégia cirúrgica, quando indicada, através de métodos de imagem que de alguma forma avaliam a anatomia e/ou o fluxo de sangue no interior dos vasos, como a Angio-TC, a Angio-RM e a Dopplerfluxometria vascular.
Finalmente, permitem também o reconhecimento de diversas outras lesões que podem simular um AVC ou ter uma apresentação clínica ou de imagem semelhante.