O uso da densitometria para a identificação de osteoporose ou de osteopenia já está estabelecido, como padrão-ouro, há bastante tempo. Entretanto, mais recentemente, a indicação do método para a avaliação da composição corporal tem crescido em importância devido às diversas possibilidades de sua aplicação:
Na Avaliação da Massa Óssea:
O scan do corpo inteiro realizado no exame da composição corporal vai fornecer a densidade mineral óssea (DMO) e o conteúdo mineral ósseo (CMO) do corpo inteiro, de forma global e segmentar (1). Estes dados podem ser úteis na avaliação evolutiva de patologias relacionadas ao metabolismo ósseo.
A avaliação do corpo inteiro (e da coluna lombar) também pode identificar, em pacientes com menos de 20 anos, uma DMO abaixo do esperado para a faixa etária, quando o Z-score (comparação com a população de referência de mesma faixa etária) é igual ou inferior a menos 2 desvios-padrão. Lembramos que para pacientes com idade igual ou superior a 20 anos, os segmentos recomendados para esta análise são o fêmur proximal, a coluna lombar e na impossibilidade de análise de um deles, o antebraço não dominante.
Na Avaliação da Massa Gorda:
A avaliação da massa gorda, fornece dados objetivos no acompanhamento de pacientes com sobrepeso ou obesidade, nos que apresentam patologias que comprometam o ganho ponderal (anorexia, desordens alimentares, síndrome desabsortiva, doenças crônicas consumptivas, etc) e em atletas ou praticantes de exercícios físicos mais intensos.
O exame fornece o percentual de massa gorda em relação à massa total e o percentil correspondente (relativo ao grupo populacional de referência), além de outros índices, como o Fat Mass Index (FMI), dividindo a massa gorda total pela superfície corporal. A Tabela 1 demonstra a interpretação dos valores do FMI (2).
O FMI tem sido considerado um parâmetro mais específico que o Índice de Massa Corporal (IMC), na avaliação da obesidade ou de deficit de gordura corporal, por levar em conta o gênero do paciente e utilizar exclusivamente a gordura corporal no seu cálculo.
A Figura 1 mostra um exemplo da discordância entre o IMC e o FMI. Neste caso, o paciente foi submetido a uma cirurgia bariátrica e apesar de estar sob rígido regime dietético e realizando atividade física intensa há longo prazo, estava classificado como obeso pelo IMC (30,9 Kg/ m²). Porém a análise da composição corporal mostrou um FMI normal (4,5 Kg/ m²). Observou-se, ainda, que a massa de gordura total correspondeu, quando comparada à população de referência, ao percentil 5. Portanto, seu peso aparentemente elevado em relação à altura, se devia ao aumento da massa muscular e não ao aumento da massa gorda (obesidade).
Na avaliação da gordura corporal também podem ser fornecidos parâmetros relacionados ao risco de doença cardiovascular e de síndrome metabólica, como TAV (Tecido Adiposo Visceral) e a Taxa A/G (% de gordura andróide / % de gordura ginóide). Estes índices se fundamentam no conceito de que a distribuição da gordura pode ser clinicamente mais importante do que a quantidade de massa gorda total (3).
A Taxa A/G é sugestiva de maior risco de síndrome metabólica e/ou doença cardiovascular, quando há predomínio significativo da gordura andróide (4-6).
O TAV tem um valor preditivo para mortalidade maior do que o tecido adiposo subcutâneo presente na mesma região abdominal (7) e embora ainda não haja consenso sobre o valor de referência de normalidade, constitui dado útil para análise comparativa com exames subsequentes.
A análise segmentar da gordura corporal, também pode ter aplicação na lipodistrofia dos pacientes com HIV submetidos à terapia com anti-retrovirais, particularmente pela avaliação da relação entre o percentual da massa de gordura do tronco e o percentual da massa de gordura das pernas ou Fat Mass Rate (FMR)(8).
Na Avaliação da Massa Magra:
O estudo da massa muscular pode trazer informações importantes no acompanhamento de patologias que afetam o ganho ponderal, em alguns casos de atrofia ou hipertrofia (especialmente as assimétricas), na evolução de pacientes submetidos a regimes dietéticos e de condicionamento físico, em atletas ou praticantes de exercícios intensos e na identificação de sarcopenia.
Além do cálculo da massa magra total, são fornecidos dados, como o Índice de Baumgartner (massa magra apendicular em relação a superfície corporal), utilizado na identificação de baixa massa muscular e da sarcopenia. Este índice é considerado normal quando superior a 7,26 Kg/m2 (em homens) ou 5,45 Kg/m2 (em mulheres) e sugestivo de baixa massa muscular quando igual ou inferior a estes valores (9). Deve-se ressaltar, entretanto, que o diagnóstico de sarcopenia requer, além da identificação de baixa massa muscular, a presença de dados clínicos ou de prova funcional evidenciando redução da força muscular.
Referências:
ISCD. 2013 The official positions: Body composition analysis report. JCD, vol 16, no, 4, 508-519.
Kelly TL, et al. 2009 DEXA Body composition reference values from NHANES. PLoS One 4:e7038
Lapidus L et al. 1984 Distribution of adipose tissue and risk of cardiovascular disease and death. BMJ 289:1257-1261.
Mary K Oates, et al. 2007 Body composition with IDXA in obese subjects with and without metabolic syndrome JCD, vol 10 207-208
Niederauer CM, et al. 2006 Effect of truncal adiposity on plasma lipid and lipoprotein concentrations. J Nutr Health Aging 10:154-160.
Toss F, et al. 2012 Body composition and mortality risk in later life. Age Aging 41:677-681.
Kaul S et al. 2012 DEXA for quantification of visceral fat. Obesity (Silver Spring) 20:1109-1114.
Freitas P et al. 2010 An objective tool to define lipodystrophy in HIV-infected patients under antiretroviral therapy. JCD vol 13 (2): 197-203
Baumgartner RN et al. 1998 Epidemiology of sarcopenia among the elderly in New Mexico. Am J Epidemiol 147(8): 755-763.